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A PSICOLOGIA DOS DEUSES

Mortos estão todos os
deuses; agora queremos que o além do homem viva!” – Nietzsche em
Assim Falou Zaratustra


Há muito que o filósofo
Friedrich Nietzsche proclamou que Deus está morto. E muitos dados
mitológicos corroboram sua fala.

A HISTÓRIA CONTADA EM MITOS

Já do século XIII, chega a
nós através da mitologia nórdica, também chamada de mitologia
viking ou escandinava, o portentoso Ragnarök, que em português
significa o destino dos deuses. Ragnarök é um evento importante no
cânone nórdico sendo objeto de estudos acadêmicos e teóricos.

Nesse evento os deuses que
viviam na terra, enfrentam o fim de tudo e um a um os deuses caem
diante do gigante Surt que já existia antes dos deuses e que carrega
uma espada flamejante.

Surt que vivia onde a terra
terminava, onde a névoa se transformava em luz, abandona seu posto
espalhando o fogo pelo mundo em meio à batalha dos deuses contra os
gigantes do gelo exterminando a todos e a tudo.

Contudo, o fogo de Surt não
alcança a Árvore do Mundo, Yggdrasil, e dois mortais se escondem em
segurança no interior de seu tronco. A mulher se chama Vida e o
homem se chama Desejo de Viver.

Enquanto isso os celtas também
mantem seus deuses cujo conhecimento e sabedoria lhes são
transmitidos através dos druidas.

Os celtas não deixaram nada
por escrito, ironicamente, porém, sabemos de seus deuses através de
seus conquistadores, os romanos.

Vejamos um pouco da lenda de
Merlin, o druida mais famoso da história céltica.

Ao perceber que o mundo está
em transformação e que o Cristianismo está ganhando poder, Merlin,
engendra um plano onde conta com o rei Arthur para que esse possa
fazer viver no reino as duas coisas, o paganismo e o cristianismo.

Contudo, isso não acontece. E
Fincayra, a terra que simboliza e carrega em si a sabedoria agora
chamada pagã é separada do reino e escondida pelas brumas, um lugar
entre o céu e a terra, bem como o druida Merlin que se retira
completamente do mundo se fazendo  perpetrar numa rocha… Um dia,
quem sabe, alguém, ou um povo, possa trazê-lo de volta da rocha
assim como aconteceu com a espada Excalibur que, originalmente, foi
retirada de uma pedra.

Na sequência, posto
que a cultura forte da Grécia influenciasse a de Roma, os deuses de
Roma e da Grécia antiga foram os mesmos, mudando apenas os nomes e
ali ocorre um mito importante da ascensão dos deuses em que deixam a
terra e se vão todos para o Olimpo, deixando para trás apenas o
deus Dioniso, nascido da coxa de Zeus o deus dos deuses.

Dioniso, desde o início, não
aceita viver na Polis preferindo ficar em meio ao povo nas ruas e na
Terra.

O mito conta que após Ariadne
oferecer o seu fio de ouro para Teseu descer ao labirinto, matar o
Minotauro que assombrava o reino de seu pai e depois voltar por ele
para não se perder como tantos outros que haviam tentado o grande
feito, Teseu a abandonou na praia para se casar com sua irmã por
quem se apaixonara.

Sentindo-se traída e
abandonada, Ariadne chora na praia e é ali que Dioniso surge diante
dela e diz: “Ariadne, eu sou o seu labirinto!”.

Os deuses já estão todos no
céu, Ariadne possui o fio de ouro que pode ir e voltar com segurança
dos labirintos.

Dioniso que prefere
permanecer na terra diz agora ser o seu labirinto e nesse instante
Zeus se apieda de Ariadne e lhe concede a ambrosia, o alimento dos
deuses, tornando-a também uma deusa e elevando-a aos céus do
Olimpo.

Bem, se os deuses querem
voltar a terra sua chance é utilizar o fio de Ariadne através do
Dioniso-Labirinto, que é o deus Baco para os romanos, o deus do
vinho, o deus das orgias, o deus das intensidades. Lembrando que as
intensidades só podem ser vividas por aqueles que possuem um corpo,
uma pele, ou seja, pelos humanos.

A sizígia, que significa
união, que Dioniso faz é com o povo. Os demais deuses fazem suas
sizígias com outros deuses. Nenhum outro deus representa o povo
tanto quanto o deus Dioniso.

E temos que novamente aqui que
os deuses desaparecem da terra.

Na mitologia cristã, Jesus
Cristo, filho de Deus, desce a Terra para salvar os homens
ensinando-lhes sobre o amor e a bondade. Morre na cruz cumprindo sua
missão de tirar os pecados do mundo através de seu próprio
sacrifício e depois de três dias se faz ressuscitado retornando aos
céus cristão onde está sentado à direita de Deus Pai todo
poderoso aguardando o Juízo Final onde os humanos serão julgados, e
o mal e o bem separados, presumindo que o bem irá herdar o reino de
Deus e o mal será aniquilado para sempre no fogo do Inferno.

O LUGAR INTERMEDIÁRIO

Assim temos que em cada um dos
mitos aqui resumidamente apresentados, encontramos algo
particularmente em comum: há sempre a chance de um recomeço para os
seres humanos. Um tempo que se foi, um tempo que se acabou, todavia,
sempre se estabelece a possibilidade de um novo começo. Um novo modo
de existência para os humanos e para os deuses.

No Ragnarök, os deuses passam
para outro plano, não mais vivem na Terra, vivem então em Valhala
para onde vão os guerreiros após sua morte, um lugar intermediário
entre o céu e a Terra, um lugar sagrado e histórico.

Nesse mito um homem e uma
mulher se salvam, ela se chama Vida e ele se chama Vontade de Viver.

No mito celta de Merlin, ele
que representa a sabedoria dos druidas, a voz dos deuses, se encontra
petrificado numa rocha. Por sua vez, a rocha representa o Self, o
registro do inconsciente e da consciência de toda a humanidade. De
modo que, o acesso a tal sabedoria está disponível para quem tem
olhos para ver e para quem tem ouvidos para escutar.

Os deuses célticos foram
morar nas brumas, em Fincayra, um lugar intermediário entre o céu e
a Terra, um lugar tanto sagrado quanto histórico.

Já no mito de Dioniso, vemos
que os deuses vivem no Olimpo, apenas Dioniso permanece na Terra e
ele se torna o labirinto para o fio de Ariadne que foi elevada a
condição de deusa por Zeus, morando também ela, no Olimpo, um
lugar intermediário entre o céu e a Terra, um lugar que reúne em
si mesmo o sagrado e o histórico.

No mito cristão de Jesus, que
representa o amor universal e a benevolência, Ele está esperando os
humanos ao lado do Pai no céu cristão, o Paraiso, um lugar
intermediário, ao mesmo tempo sagrado e histórico.

O RESGATE PSICOLÓGICO – uma
leitura

O lugar intermediário em
termos psicológicos é aquele que não está consciente e nem
totalmente inconsciente, como nos ensina Freud. Ele está na
pré-consciência.

Os conteúdos do
pré-consciente surgem com relativa facilidade posto que o grau de
censura maior esteja entre o inconsciente e a consciência. Sendo
aqui a censura mais rasa, os conteúdos podem surgir com maior
facilidade.

Usualmente isso se dá através
de histórias, de lendas, de mitos, de sonhos, de contos de fadas, de
delírios, de fantasias e das artes em geral.

É assim que acontece porque a
linguagem simbólica é a primeira linguagem que conquistamos tanto
ontogenética quanto filogeneticamente.

Na evolução de nosso
pensamento a nossa primeira conquista passou pelo pensamento através
de imagens, esse chamado de pensamento primário, em que utilizávamos
a imagem para expressar aquilo que víamos e entendíamos, daí que
as primeiras civilizações não sabendo explicar pela razão ainda
não conquistada aquilo que viam, deram ao raio a imagem de um deus,
ao rio, as arvores, ao sol, a lua, as tempestades e assim por diante.

Nós criamos os deuses logo
nas primeiras civilizações ainda sobre o comando de nosso
pensamento primário.

Os processos primários são o
modo de funcionamento do sistema inconsciente e os processos
secundários referem-se ao sistema consciente e ao pré-consciente.

Em 1915, no texto O
Inconsciente, quando Freud traz concepções mais refinadas em
relação às características dos diferentes sistemas, afirma que os
processos psíquicos do inconsciente apresentam características
especiais, diferentes do sistema consciente.

Essas características
especiais a que se refere estão estritamente relacionadas aos
instintos e as suas pulsões.

O pensamento do indivíduo se
dá de modo não racional, o que significa que se faz de maneira
primária, ou seja, por ideias ainda imbricadas na imagem e não por
ideias já raciocinadas e, portanto, livre das pulsões e de seu
conteúdo simbólico.

É exatamente devido a esses
processos primários que o Dr. Carl Gustav Jung incluiu como um
instinto humano a espiritualidade tal e qual a outros instintos
básicos como o da procriação e o da sobrevivência.

Somente mais tarde, por volta
do século primeiro depois de Cristo, é que se inicia a nossa
conquista do pensamento secundário, ao qual a razão é introduzida
em nossa maneira de pensar e existir.

A partir daí, já não
precisamos mais dar uma imagem às coisas para pensar sobre elas,
precisamos apenas da reflexão intelectiva e conceitual.

O processo secundário inclui
o raciocínio, inclui a crítica racional que acaba esvaziando da
ideia a conotação mágica e transcendental que ora tivera no
processo primário.

E foi desse modo que os deuses
já não tiveram mais lugar aqui na Terra.

Entretanto, foram parar no
pré-consciente, instância psíquica na qual fica armazenado o
conhecimento e as memórias.

Enquanto vivíamos apenas no
pensamento primário, ainda éramos mais instintuais, projetávamos
nossas pulsões em forma de imagens e criávamos os deuses, os
espíritos bons e os malignos.

Ao adquirirmos o pensamento
secundário, passamos a viver de modo mais racional em detrimento do
instintual.

Pensemos num pêndulo para
explicar essa questão. Quando soltamos um pêndulo ele tende a ir de
uma extremidade a outra e com o tempo ele vai se aquietando até
chegar ao ponto de seu meio termo.

Parece que assim é com o
nosso aprendizado do pensamento. Estávamos nós no extremo de um
pensamento, o pensamento primário, e agora chegamos ao seu extremo
oposto, o pensamento secundário, o que acabou por originar a doença
da razão devido ao extremismo.

Os deuses ainda podem nos
guiar nessa senda para encontrarmos a composição entre o pensamento
primário e o pensamento secundário, criando assim a razão
sensibilizada pelos instintos e a cura da doença da razão.

Tomemos como exemplo os deuses
e as deusas gregas. Que
o
fio de Ariadne nos
conduza!

SIGNIFICADO
DOS DEUSES PARA O PENSAMENTO PRIMÁRIO

Zeus

Era a abóboda celeste de
onde partiam os raios e os trovões causando incêndios e fogos
que vinham diretamente dos céus.

Poseidon

Enramá as águas do mar
que sacudiam a terra e causavam enchentes e maremotos.

Hades

Representava o reino
depois da morte. O mundo inferior que podia dominar os vivos.

Apolo

Representava o Sol. O
grande pavor era de que não voltasse a surgir no dia seguinte.

Hermes

Representante do poder de
trapacear e de negociar com todos os deuses e humanos.

Ares

O poder da guerra. Deus
condutor de vitórias através do espírito guerreiro.

Hefesto

Representava o deus que
morava dentro do vulcão. Suas explosões e sua lava eram sua ira
e também seu material de trabalho, pois ele era também o deus
da forja.

Dioniso

Deus do vinho.
Representava o deus que surgia juntamente com o êxtase nas
orgias.

SIGNIFICADO DOS DEUSES
PARA O PENSAMENTO SECUNDÁRIO

Zeus

Instinto de poder. De
liderar, de governar, de ser possuidor.

Poseidon

Os aspectos emocionais
instintuais que podem causar rompantes de grandes
extravasamentos.

Hades

Energia psíquica
inconsciente e conteúdos autônomos da psique.

Apolo

Consciência. O aspecto
racional da psique. Assertividade e ordem.

Hermes

Sagacidade, criatividade,
jovialidade, curiosidade. Aspectos instintivos de sobrevivência,
rapidez e agilidade.

Ares

Instinto de sobrevivência
que põe a raiva como defesa tanto para construção quanto para
destruição.

Hefesto

Instinto criativo, de
engenhosidade e de estratégias inventivas.

Dioniso

O Instinto do prazer.
Intensidade e êxtase pela vida.

E assim se sucede com as
deusas:

SIGNIFICADO DAS DEUSAS PARA
O PENSAMENTO PRIMÁRIO

Ártemis

Deusa da lua e da caça e
também do parto.

Atenas

Deusa da inteligência e
das artes.

Héstia

Deusa da lareira, da casa e
do Templo.

Hera

Deusa do Casamento.

Deméter

Deusa do Cereal, da boa
colheita e da fertilidade.

Perséfone

Rainha e guia no inferno.

Afrodite

Deusa do amor e da beleza.

SIGNIFICADO DAS DEUSAS
PARA O PENSAMENTO SECUNDÁRIO

Ártemis

Instinto de combatividade.
Instinto de proteção, cumplicidade e irmandade entre as
mulheres. Domínio da mente em foco, pensamento direto,
assertividade e metas.

Atenas

Capacidade intelectual e
estrategista. Amante da tecnologia, das ciências e das artes.

Héstia

Capacidade para o amor
maduro e duradouro. Independência Afetiva.

Hera

Instinto gregário.
Comprometimento e estabilidade nas relações e compromissos.

Deméter

Instinto materno que
deseja cuidar e manter em segurança a vida que existe. Instinto
de benevolência e magnanimidade para com toda a criação.

Perséfone

Representa a sabedoria
instintiva e criativa da vida por reconhecer e conviver com o
reconhecimento instintual sobre a finitude e a efemeridade da
própria existência.

Afrodite

Representa o instinto de
perceber o amor em toda sua diversidade, bem como o de
potencializar a beleza que há nos seres e na natureza.

SÉCULO XXI–MOMENTO DE
TRANSIÇÃO OU DE DESTRUIÇÃO

Esse é o tempo em que vivemos
agora e aqui no século XXI. O tempo em que a ciência, através da
evidenciação, comprova o que a razão sensibilizada pelos instintos
nos instrui: os deuses, todos eles, inclusive os que hoje ainda são
venerados e objeto de disputas e guerras, nada mais são do que
arquétipos, construções humanas, conteúdo da psique humana que
fora projetado numa imagem num tempo em que somente o pensamento
primário existia.

Se mantém até os dias atuais
devido a obsessão religiosa e a obsessão ideológica, caso
contrário, a evidência a partir do método socrático já teria
banido de nosso meio essa doença coletiva que aliada a política
vigente, vem causando conflitos, dor, misérias e guerras por
centenas de anos sem que tenhamos esperança de que se acabe. Em
pleno século XXI estamos assistindo a fundamentalismos que destroem
e matam em nome de seu deus partidário.

Se por um lado temos Freud que
nos trouxe a sabedoria quanto ao desenvolvimento do pensamento
humano, por outro temos Carl Gustav Jung que foi até mais incisivo
em suas descobertas e conceitos sobre o mesmo tema. Disse ele:

“Eu pessoalmente, tive a
grande vantagem em relação a Freud e Adler, de que a minha formação
não veio da psicologia das neuroses e suas unilateralidades. Vim da
psiquiatria, bem preparado por Nietzsche, para a psicologia moderna”.
(JUNG) in A Natureza da Psique

O seu conceito de arquétipo,
que significa, em última instancia, o pensamento ou a ideia matriz
que vem sendo replicada através dos tempos. Ou seja, de modo
simplista, o arquétipo é um tipo antigo, uma forma pensamento que
se repete nas civilizações e comportamentos humanos.

Ao cunhar o conceito de
arquétipo Jung, demonstra que este é um acontecimento e uma
construção humana, pois o arquétipo em si mesmo não tem nenhum
conteúdo, no entanto, ele é preenchido por imagens produzidas e
compartilhadas pelos seres humanos.

De modo que quando Jung diz
“Eu não acredito em Deus, mas sei que ele existe”, significa que
ele, Jung, não crê em deus, mas sabe que deus é uma construção
humana e, portanto, uma matriz de pensamento, um arquétipo.

Trabalhando diretamente com
pacientes da Clínica Psiquiátrica Burgholzli em Zurique,
rotineiramente Jung se dava conta de que esses pacientes possuíam a
clara tendência a devanear e delirar com o arquétipo de deus,
inclusive, em sua maioria, o surto psicótico eclodia (e eclode)
quando de uma experiência divina.

Essa proximidade entre doenças
psíquicas e experiências do divino mantem sua correlação até os
dias atuais, basta uma visita a um centro psiquiátrico para perceber
que o arquétipo do divino está concretamente presente.

Nas neuroses não é muito
diferente disso, o arquétipo do divino se mantem sempre presente
também, apenas não ocorre uma dissolução da personalidade, o ego
se mantem e em “segredo” ou em segundo plano há a crença
de que se é um ser especial e divino, uma semente de um ser
espiritual e superior que será descoberto em breve e logo
ritualisticamente consagrado.

Enfim, não creio em bruxas,
fadas, duendes e nem em unicórnios cor-de-rosa, mas que eles existem
e fazem terapias alternativas por aí afora, fazem sim e como
acreditam piamente ser superior não há chance de reconhecer que
suas terapias causam danos e sequelas psíquicas graves em seus
discípulos, quero dizer, em seus “pacientes”.

Cabe aqui um alerta: terapias
que falam ou que mostram uma imagem de regressão criam falsas
lembranças que podem ser fatais para sua saúde psíquica e,
usualmente, para com as pessoas ao seu redor.

É devido a esses fatos
psíquicos reconhecidos pelo Dr. Carl Gustav Jung, que hoje se inclui
junto aos instintos a espiritualidade.

O instinto espiritual pode ser
altamente eficaz e saudável desde que utilizado como sensibilidade
dada pelos sentidos e atrelada à razão. No entanto, tem sido
altamente corrosivo e perverso quando utilizado como sendo algo
proveniente de alguma divindade.

E é por isso que Jung alerta:

*”É indispensável que
em cada indivíduo se produza um desmoronamento, uma divisão
interior, que se dissolva o que existe e se faça uma renovação,
sem impô-la ao próximo sob o manto farisaico do amor cristão ou do
senso da responsabilidade social – ou o que quer que seja para
disfarçar as necessidades pessoais e inconscientes de poder.”
C.G.Jung”

Outro conceito importante para
estabelecer a psicologia dos deuses, é o conceito de complexo
autônomo da psique.

É nos sonhos, nas
visões e nas alucinações patológicas e nas ideias delirantes onde
mais claramente se destacam os complexos autônomos da psique. Como o
eu não tem consciência deles, lhe são estranhos, por isso aparecem
primeiramente como forma projetada”. (JUNG)

Nestes três tipos de
fenômenos há algo em comum: conteúdos psíquicos que possuem sua
própria autonomia.

A psique não é uma
unidade indivisível, mas um todo divisível e mais ou menos
dividido.

Embora as partes
separadas estejam ligadas, entre si, são relativamente
independentes, a tal ponto que certas partes jamais aparecem
associadas ao eu, ou se lhes associam apenas raramente. A essas
partes da psique chamei de complexos autônomos”. (JUNG)

O complexo do eu é apenas
um dentre vários complexos. Mais tarde, Jung os chamou também de
personalidades parciais.

A proposta é se
diferenciar do inconsciente, não através da repressão ou negação,
mas “colocando-o ostensivamente à sua frente como algo à
parte, distinto de si”. – (Jung em a Natureza da Psique).

Aprender a distinguir o eu
da psique coletiva, redireciona a energia antes inaproveitável e
patológica, em prol dos sentidos e da manifestação de sua
vitalidade como membro ativo da sociedade humana. A esse processo
Jung chamou de individuação). *

Resumidamente Carl Gustav Jung
explica:

“Sob o ponto de vista
psicológico, os espíritos são, portanto, complexos inconscientes
autônomos que aparecem em forma de projeção, porque em geral, não
apresentam nenhuma associação direta com o eu”. (JUNG)

ESPIRITUALIDADE É INSTINTIVA

Onde quer que se reúna um
grupo, logo criarão um ou mais deuses. Essa constatação é
plenamente verificável através dos estudos sobre as civilizações.

Embora os animais sejam
sencientes, ou seja, possuam a capacidade de sentir sensações e
sentimentos, bem como de perceber conscientemente o que lhe acontece
e daquilo que o rodeia, não possuem o instinto da razão. Funcionam
dentro do princípio e sistema primário no qual os instintos e
pulsões formam a base de sua percepção e senciência.

Os seres humanos possuem a
mesma base instintual somada ao instinto racional.

A razão não sente e nem
percebe. É através dos instintos que ocorre a percepção e os
sentimentos como o afeto, o carinho, a raiva, o medo, etc. A razão
não possui tal capacidade, ela é responsável por nominar e
codificar o que foi sentido pelos instintos. Através da razão é
que sabemos identificar o objeto percebido e o sentimento evocado.

A educação que já se inicia
no berço e ela se encarrega de castrar todas as pulsões
instintuais, sobretudo de extinguir o comportamento relacionado aos
instintos.

Comumente o sujeito que passou
pelo sistema de educação cultural, não mais se sente capaz de
perceber seus sentimentos e percepções instintivas após o tremendo
condicionamento a que, sem escolha, se submeteu através da
culturalização e domesticação de seus instintos que não deveria
ser negado e tão somente reflexionado de maneira racional e
consciente para que o próprio indivíduo tivesse a oportunidade de
conter seus instintos, característica do criticismo racional que não
possui qualquer orientação para ser devidamente exercido posto que
o condicionamento dos instintos se fa
z
de modo autoritário e sem raciocínio.

Em última instância, nosso
lado animal, nosso lado selvagem, foi castrado a ponto do ego não
mais possuir conexão consciente com ele.

Com os instintos inconscientes
temos dois caminhos a seguir: tornamo-nos apaticamente vulneráveis a
qualquer das imposições religiosas e ou ideológicas ou somos
“possuídos” pelos instintos.

Numa terceira via, pode
acontecer
os dois em
conjunto e é esse o momento d
a
apropriação
do ego
saudável e sensível o que propiciaria
que
a Terra e os seus habitantes
alcançar
um novo patamar de existência
plena
e conectiva.

A opção
dicotômica
é a razão
da obediência passiva e desarrazoada frente a qualquer figura de
autoridade.

No holocausto muitos
obedeceram a ordens superiores para matar e ou para torturar, impondo
um grande sofrimento ao outro, muito embora pudessem ter
solidariedade, não conseguiam parar seu condicionamento
de
obediência
cega.

A distância entre instintos e
razão é a base de todas as doenças psíquicas. Dentro do espectro
de doenças mentais as mais brandas, e por isso mais proximidade
entre razão e instintividade, estão as diversas neuroses e a mais
distante, inclusive com a supressão dos afetos
cuja
morada se encontra nos instintos
,
está toda ordem de psicopatia e sociopatia.

De modo que, o indivíduo
psicologicamente mais fraco e mais doente é o sociopata e todo o
espectro da psicopatia,
no
entanto, eles estão a dominar a sociedade que ainda não se deu
conta de que o poder e a força está em administrar razão e
instintos simultaneamente. Acessar os afetos,vivenciar a
do,vivenciar o amor, é só para os fortes.

Infelizmente, devido a imensa
imaturidade e narcisismo, há muitas pessoas desejando serem
sociopatas e quiçá psicopata para deixar de “sofrer” e usarem
sua inteligência apenas para o poder.

No entanto, aquele que deixa
de “sofrer” não apenas deixa de sofrer as amarguras, deixa de
sofrer também as alegrias e muito mais do que isso, deixa de crescer
como pessoa, pois não mais exerce sua potência frente as
adversidades, permanecendo narcísico e imaturo, sem completar sua
jornada para a maturidade psíquica e emocional,
vivendo
apenas pelo controle, ganância e poder desmedido.

A ordem desse novo tempo
caótico e muitas vezes absurdo em que vivemos tanto economicamente
quanto politicamente, requer que mais e mais indivíduos exerçam sua
propriedade de razoabilizar, raciocinar de modo sensível, utilizando
a razão e os instintos, sobretudo exercendo o seu poder de
transformar o mundo dando a si mesmo a oportunidade de novamente
fazer parte da Natureza e por amor a ela criar e gerar novos
pensamentos e comportamentos de acordo com a realidade de que o
planeta Terra é a nossa linda nave espacial e que deveríamos cuidar
melhor de nosso lar e de todos que o habitam.

E não temos mais tempo,
porque os recursos naturais da Terra estão sendo minados pela
ganância própria dos sociopatas e dos psicopatas. Não vejo nenhum
deus e nenhum representante de deus atuando de modo efetivo para
cuidar e amar o planeta e todas as pessoas e todos os habitantes.

Se as palavras daqueles que
são reverenciados como deuses fossem, de fato, exercidas pelos seus
milhões e milhões de seguidores, não haveria mais guerra e nem
ódio às diferenças.

Para concluir vou citar a
frase do físico teórico Michio Kaku:

“A geração de hoje é
talvez a mais importante geração de seres humanos a caminhar sobre
a Terra. Ao contrário de gerações anteriores, temos em nossas mãos
o destino do futuro de nossa espécie, quer nos alcemos a cumprir
nossa promessa como uma civilização do tipo I ou desçamos ao
abismo do caos, da poluição e da guerra. As decisões que tomarmos
reverberarão por todo este século. A nossa solução para guerras
globais, proliferação de armas nucleares e lutas sectárias e
étnicas definirão ou destruirão os alicerces de uma civilização
do tipo I.”

de “Mundos paralelos:
Uma jornada através da criação, das dimensões superiores e do
futuro do cosmo”.

Bibliografia consultada e
recomendada:

BOLEN, Jean Shinoda – Os
Deuses e o Homem – 2005

BOLEN, Jean Shinoda – As
Deusas e a Mulher – 1990

BRANDÃO, Junito de Souza –
Mitologia Grega – 1998

O Livro de Ouro da Mitologia –
2002

JUNG, C. G. – A Natureza da
Psique – 1999

JUNG, C.G. – O Eu e o
Inconsciente – 1984

JUNG, C. G. – Psicogênese
das Doenças Mentais – 1980

JUNG, C.G. – Interpretação
Psicológica do Dogma da Santíssima Trindade – 1988

NIETZSCHE, Friedrich W. –
Assim Falou Zaratustra – Um livroPara Todos e Para Ninguém – 1977

FREUD, Sigmund – A
Interpretação dos Sonhos – 2001

FREUD, Sigmund – Mal Estar
da Civilização – 1930

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