“Onde
a culpa é grande, a graça pode também ser imensa. Semelhante fato
produz uma transformação interior infinitamente mais importante do que
as reformas políticas e sociais que, na verdade, de nada valem nas mãos
de homens injustos. Sempre nos esquecemos disso porque olhamos com
fascínio para as circunstâncias que nos rodeiam em lugar de examinar
nosso coração e nossa consciência. Todo demagogo se aproveita dessa
fraqueza humana e denuncia alto e em bom som, o descaminho das
circunstâncias exteriores. No entanto, o que na última instância não
caminha bem é o homem”. (O humano)
A FÁBULA E O NOSSO MOMENTO SURREAL
assimilado pela psique coletiva
OS
CONTOS SÃO CONSTITUIDOS POR FANTASIAS DO POVO, possuem sempre um
recado, um alerta, uma moral, uma ética ou ainda simplesmente revelam o
pensamento da época em que foram escritos. O fato de se perpetuarem,
feito uma tradição, aonde um vai contando para outro por séculos afora,
significa que possui em si mesmo, uma força. Energia psíquica que vai
tomando as pessoas e se reproduzindo até que o recado seja compreendido e
assimilado pela psique coletiva.
Isso é sinal de que sua mensagem ainda faz sentido e encontra em nossa realidade solo fértil.
Se ainda faz sentido, algo acontece em nossa cultura e civilização que
está reproduzindo o mesmo acontecimento de outrora, a mesma ideia que
envolve pensamentos e sentimentos de um povo que por esperança de
melhoras, por medo talvez; ou pura impotência; ou ainda por instinto de
sobrevivência se adapta e se submete a um Imperador vaidoso e ávido de
poder.
criminoso muito do espertalhão, se fazendo passar por um alfaiate de
terras distantes, diz a um determinado rei que poderia fazer uma roupa
muito bonita e cara, mas que apenas as pessoas mais inteligentes e
astutas poderiam vê-la. O rei gostou da proposta e pediu ao bandido que
fizesse uma roupa dessas para ele já se imaginando ostentando sua
riqueza, poder e maravilha diante de seu povo faminto e também de outros
reis.
riquezas, rolos de linha de ouro, seda e outros materiais raros e
exóticos, exigidos por ele para a confecção das roupas. Ele guardou
todos os tesouros e ficou em seu tear, fingindo tecer fios invisíveis,
que todas as pessoas alegavam ver, para não parecerem estúpidas.
Até
que um dia, o rei se cansou de esperar, e ele e seus ministros quiseram
ver o progresso do suposto “alfaiate”. Quando o falso tecelão mostrou a
mesa de trabalho vazia, o rei exclamou:
vestes! Você fez um trabalho magnífico!”, embora não visse nada além de
uma simples mesa, pois dizer que nada via seria admitir na frente de
seus súditos que não tinha a capacidade necessária para ser rei.
nobres ao redor soltaram falsos suspiros de admiração pelo trabalho do
bandido, nenhum deles querendo que achassem que era incompetente ou
incapaz.
estariam completas, e o rei resolveu marcar uma grande parada na cidade
para que ele exibisse as vestes especiais.
grito é absorvido por todos, o rei se encolhe, suspeitando que a
afirmação seja verdadeira, mas mantém-se orgulhosamente e continua a
procissão…
Desde a Idade Média, essa é a grande pergunta que admiráveis pensadoras e pensadores buscam responder:
O QUE PODE PROVOCAR UM SALTO DE ENTENDIMENTO SOCIAL EM TODA A POPULAÇÃO E NÃO APENAS EM PEQUENOS GRUPOS?
Me acompanhem…
ALQUIMIA; DARWIN; DURKHEIM; FREUD; JUNG; NIETZSCHE; JONATHAN HAIDT
O alquimista buscava transformar os metais vulgares em ouro.
O objetivo era a Grande Opus. A transformação final e totalizadora.
com uma pedra que deveria, ela mesma, se abrir para receber Mercúrio, a
partir daí passaria por sete fases, até finalmente se transformar em
Pedra Filosofal, a matriz para toda a humanidade. De uma simples pedra para uma pedra com filosofia, com entendimento e sabedoria.
Para
Darwin a evolução se dá devido a adaptação ao meio, a espécie que se
adapta evolui e aquela que não se adapta tende a se extinguir.
seleção de grupo é controversa entre os teóricos da evolução, a maioria
deles concorda que a seleção de grupo nunca aconteceu realmente entre
humanos. Eles pensam que qualquer coisa que pareça uma adaptação
relacionada com o grupo – se você olhar de perto – acaba por ser uma
adaptação para ajudar os indivíduos a superar seus vizinhos dentro do
mesmo grupo, e não uma adaptação para ajudar grupos a superar outros
grupos.
O genial Freud, fez descobertas incríveis,
mas cá para nós, nesse momento o que mais importa é que ele simplesmente
fez o que parecia impossível… registrou cientificamente que o
inconsciente existe!
Na
sequência, Carl Gustav Jung, também chamado por Freud de seu príncipe
herdeiro, registrou cientificamente, (aqui no Brasil quem fez tal
registro cientifico foi a Dra. Nise da Silveira), que não só o
Inconsciente Pessoal existe como também o Inconsciente Coletivo muito
bem representado pelos diversos arquétipos de criação humana.
Os arquétipos se apresentam em pares de opostos:
e o Diabo; O Médico e o Monstro; a Santa e a Prostituta; o Herói e o
Anti-herói; O Sádico e o Masoquista; A Criança e a Velha; O Sábio e o
Imbecil; A Fada e a Bruxa; e mais recentemente, numa polarização que se
fez mundial: o partidarismo político de Esquerda e de Direita.
Toda
ideologia e religião promove uma alteração de consciência denominada
por Jung de “participação mística” que faz com que o “eu” se dissolva no
grupo e este tenha pelo grupo sentimentos irracionais.
Acho
que podemos chamar a Alquimia de volta nesse caso… Quando promovemos a
união dos opostos ocorre uma Conjunção, uma união onde os elementos ao
se juntarem já não mais serão os mesmos, misturados receberão
características de um e de outro resultando numa multiplicidade e não
apenas num terceiro elemento.
Sair da dicotomia e ir para o múltiplo é a grande saída para a evolução e o salto qualitativo do humano.
Deixar
de ser Pedra rígida e pronta para acertar a cabeça de alguém para se
tornar Pedra Filosofal, com sapiência e sensibilidade.
você se o povo que compõem os partidos políticos de Esquerda e de
Direita percebessem que são faces da mesma moeda e que ambos servem ao
mesmo “Imperador”?
veríamos que todo e qualquer Imperador e Imperatriz estão completamente
nus e que não precisamos deles. Na multiplicidade, na terceira margem do
rio, que não é nem do lado esquerdo e nem do lado direito, mas lá no
seu fluxo, saboreamos a intensidade da vida e nunca mais nos
contentaríamos com migalhas.
David Émile Durkheim,
principal arquiteto da ciência social moderna e pai da sociologia –
INVOCOU A LÓGICA DA SELEÇÃO MULTINIVEL que seria um conjunto de
sentimentos sociais que desliga o “eu” e ativa a camada gregária.
No estado de consciência alterada o eu desaparece e dá lugar ao nós.
Na autobiografia de Delivering Happiness de Tony Hsieh em Festa Rave ele descreve sua experiência com alucinógeno:
“Era
como se a existência da consciência individual tivesse desaparecido e
fosse substituída por uma única consciência unificadora de grupo.”
No rastro de DURKHEIM…
Em
“A MENTE MORALISTA E AS ORIGENS DA POLARIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA” Jonathan
Haidt, Psicólogo social, relata vários experimentos, inclusive alguns
feitos aqui mesmo no Brasil junto a Universidade do Rio grande do Sul.
Nesse seu livro ele também persegue a pergunta de como fazer todos os
humanos evoluírem sua consciência para um outro patamar e ele passa pela
questão da alteração da consciência que se nota na “participação
mística” de Jung.
Aqui ele a registra em diversos rituais sagrados em que são utilizadas plantas alucinógenas.
Acaba que opta pela utilização de uma teoria que ele chama de esquema
de colmeia, que em última instância seria que o humano aprendesse a se
comportar não mais como macho alfa mas com colaboração, solidariedade e
cooperação entre todos e não somente entre seus próprios pares.
O
filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche, escreveu várias obras
maravilhosas como Humano Demasiado Humano, onde faz uma severa critica a
essa atual maneira de condução da vida. Dispõe que nós somos os últimos
homens. E que o humano, que é demasiadamente humano, precisa dar um
salto qualitativo e ir para além do homem. Por um erro de tradução do
alemão para o português, o além do homem de Nietzsche virou aqui o
super-homem. Mas que permaneça então a ideia de que o Nietzsche quis
dizer que o humano precisa superar a si mesmo e ir além do que está.
Nietzsche
cunhou um termo que considero de grande sabedoria e perspicácia e
aceito com muita humildade o fato dele se dizer ser o maior psicólogo do
mundo: o conceito de RAZÃO SENSÍVEL!
Para explica-la vou novamente chamar o Dr. Jung e suas polarizações.
Se de um lado temos os instintos, por outro lado temos a razão.
Já
fomos altamente instintuais, a razão passou a se desenvolver na época
do Cristianismo, ou seja a bem pouco tempo atrás, há mais ou menos 2020
anos. O humano se desenvolveu há cerca de 350 mil anos na região Leste
da África. (Diga-se de passagem que somos todos afrodescendentes).
Existe a doença dos instintos e existe a doença da razão.
O Humano anda pendendo de um polo ao outro, ora se torna instintual ora se torna racional demais.
A união desses opostos é a solução.
Os instintos são responsáveis pelos afetos. A razão não possui afeto algum, ela apenas os codifica.
Daí ser necessária a união de ambos, para promover no humano a RAZÃO SENSIBILIZADA PELOS AFETOS!
Esse caminho de unir esses dois opostos chama-se INDIVIDUAÇÃO. É o indivíduo em constante ação.
Observando
a si mesmo e o seu meio para reconhecer e se safar do arquétipo que
está lhe encarcerando ou buscando lhe enredar. Esse reconhecimento lhe
permite negociar com o arquétipo e assim seguir seu trajeto de modo
sensível.
A INDIVIDUAÇÃO, não
retira o humano do mundo, muito pelo contrário, o faz bem alerta para
com ele e o insere no mundo e no acolhimento às diferenças, abraça seus
pares e também seus ímpares, porque tem consciência de que ambos são
asas do mesmo pássaro.
A busca sensível do
reconhecimento e da união dos opostos é um trabalho para todos os dias
e para toda a vida, o forte é aquele que consegue todos os dias dar
conta de “catar” seus instintos a unha e raciocinar sem cair nas defesas
das racionalizações.
Demonstrar
afetividade, cordialidade, gentileza e intensidade de vida é para os
fortes, os fracos são os sociopatas que não acessam os afetos, apenas
fazem uso deles para atingir seus objetivos egoístas. Conhece alguém
assim?
As ideias e pensamentos aqui reunidos tem sua fundamentação teórica nos seguintes textos consultados e recomendados:
MCGUIRE, William e HULL, R.F.C. – “C. G. Jung: Entrevistas e Encontros” – (Ed. Cultrix), ano 1982.
JUNG, Carl Gustav – Aspectos do Drama Contemporâneo – Vol. X/2 das Obras Completas – Ed. Vozes, 1990.
FREUD,
Sigmund – (1996). O mal-estar na civilização. Edição Standard das Obras
Completas de Sigmund Freud (vol. 21). Rio de Janeiro: Imago. (Obra
original publicada em 1930).
HAIDT J, KUNTZ A.,A Mente Moralista e suas Polarizações – 3ª Edição – e-book – fevereiro 2020.
NIETZSCHE F., SOUZA P.C. – Humano, Demasiado Humano – 3ª Edição – e-book – dezembro 2005.
RUSSEL
B., GUERRA L. – A Conquista da Felicidade – 5ª edição – coleção
clássico de ouro – Ed. Nova fronteira – 2017 – Rio de Janeiro – RJ
CONSULTÓRIO DE PSICOLOGIA & ESTUDOS JUNGUIANOS
SONIA LUNARDON VAZ
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