MEDÉIA E JASÃO
é filha do rei da Cólquida e da feiticeira Hécate e tal qual sua
mãe Medéia reina sobre os desertos, sobre as montanhas e florestas
selvagens longe da cultura e da civilização sendo as terras
incultas seu verdadeiro domínio que lhe fornece os instrumentos de
seu poder que são venenos e remédios. Segundo Junito de Souza
Brandão, “trata-se de uma feiticeira, dotada de uma violência
inquieta, de paixões que queimam, de mudanças súbitas de humor, de
uma constante melancolia e de uma duplicidade criminosa que se volta
contra aqueles aos quais ela ama.” Ela mesma assume que é dirigida
apenas pelas paixões sem nenhuma razoabilidade.
Sua
cozinha mais parece um altar de sacrifício, mas é a vida que deve
sair de seu caldeirão como se fosse ele um ventre feminino como fez
com um cordeirinho que colocou ali em pedaços para tirá-lo de lá
inteiro e com vida, todavia, sendo ela uma mulher capaz de dar a vida
é também aquela capaz de dar a morte. Por excelência, a dona da
vida é também a dona da morte.
O
poder mágico, o pensamento mágico, insultam o espírito da
sensibilidade porque trata-se da pretensão de realizar os desejos
exaltados numa clara perversão dominadora.
trono de Iolco, terra de Jasão, passou de seu avô Creteu para seu
tio Pélias, que era filho de Tiro e Poseidon. Temendo a profecia de
que seria morto por Jasão, o rei Pélias envia o herói para uma
missão impossível: trazer o Velocino de Ouro da distante Cólquida,
reino do pai de Medéia, disse Pélias que essa era a condição para
restituir-lhe o trono.
Medéia
se apaixona por Jasão e este utilizando-se de sua magia conquista o
Velocino de Ouro dentre outras vitórias. No entanto, esse troféu
que deveria ser conquistado por ele como uma forma de trabalho
interior através das catarses que uma busca heroica nos traz, foi
simplesmente subtraído através da magia e das maquinações.
Traduzindo o mitologema temos um herói decaído e fraco, que se
entrega aos humores e àquele jeitinho fácil.
O
Velocino de Ouro representa o poder espiritual, aquele que o governa,
pela catarse, ascende ao poder legítimo dado pelo fortalecimento de
sua psique, no entanto, se ele sucumbir ao ouro sem o devido respeito
ao espírito, exercerá seu poder de modo pervertido porque ele mesmo
está pervertido.
maquinação não vence a violência em caráter definitivo, muito
pelo contrário, dá lugar a um emaranhado perverso que,
incessantemente, conduz a explosões de violência como atesta o mito
de Medeia e Jasão em que muitos são mortos culminando na tragédia
final: o assassinato dos filhos do casal como veremos adiante.
Em
Corinto, o rei Creonte propõe a Jasão se casar com sua filha Glauce
e Jasão aceitando, repudia Medeia com a qual já possuía três
filhos.
Como
declara uma das amantes de Jasão: “ele é volúvel e mais indeciso
que as auras primaveris.”
Medeia que tudo fizera por ele: traiu seu pai, abandonou sua mãe e
irmã, esquartejou seu próprio irmão e mais que tudo, se entregou
completamente por paixão. Ela promete que ninguém escapará de seu
ódio e vingança. Primeiro, envia a Glauce um traje riquíssimo e
coroa de brilhantes, enfeitiçados tais objetos ao serem usados por
Glauce incendeiam seu corpo e seu pai Creonte na vã tentativa de
salvá-la, também ele morre em chamas.
Fogo
e chamas mudam de significado quando soprados pelo amor ou pelo ódio.
Em
seguida, Medeia jura ir até onde o ódio puder arrastá-la, numa
fria vingança, envenena e mata seus filhos, talvez o remorso possa
fazer com que Jasão, através do espelho da culpa, eleve sua psique
de pervertida a uma psique sensibilizada.
A
criança, é fruto da atividade sublime ou da atividade perversa,
quando se trata da perversidade ela é a imagem da desolação e do
aniquilamento, aquilo que resta após o domínio pervertido.
Muitas mulheres sofrem do que se convencionou chamar de Síndrome de
Medéia, ao se sentirem traídas por seus maridos, descontam seu ódio
sobre os filhos e, particularmente, incita-os contra o pai bem como
contra à família do pai. Devido a essa crueldade, foi concebida a
lei contra a Alienação Parental felizmente alcançada nos dias
atuais.
Após
sua saga, Medéia é transportada ao reino da Boa Aventurança e
Jasão
encontra sua morte deitado sobre sua nau, significando que poderia
relaxar e viver sob o brilho de suas glórias subvertidas pela magia
e não conquistadas pelo espírito. Mas, eis que uma viga se
desprende do alto de sua nau e feito estaca lhe atravessa o coração.
É
o esmagamento de suas ilusões, o peso do auto engano que destarte
alcança os que fogem de si mesmos e que buscam o poder pelo poder
sem dar tratamento às suas e às demais humanidades.
Os
deuses não perdoam!