Thanatos (Tanatos), é um nome grego para a Morte. Filho da Noite
(Nix) e de Érebo, a escuridão, que por sua vez são eles filhos de
Caos. Seu irmão gêmeo é o Sono de nome Hipnos de onde advém o
nome da hipnose, por exemplo.
Thanatos
é temido até mesmo pelos Imortais porque ele traz o fim
irreversível. Segundo Hesíodo, Thanatos fixou a sua morada no
Tártaro diante da porta dos Infernos.
Os
povos antigos e mesmo os romanos, veneravam a Thanatos com um culto
particular e sagrado.
Essa
divindade também aparece nas esculturas antigas, com o rosto
desfeito e emagrecido signo de sua fome devoradora pela vida (vocês
já repararam que a morte, a mais das vezes, parece preferir levar
aquela pessoa que possui intensidade de vida¿); também aparece
representada com os olhos fechados e ainda cobertos por um véu
porque a ninguém, nem mesmo aos deuses, é possível ser controlada
através de seus olhos ou por um olhar estranho. Carrega uma foice
na mão sinalizando que tem o poder de ceifar onde quer que haja
vida, fauna, flora e humanos.
Os
escultores e os pintores conservaram essa foice à Morte e lhe deram
a mais horrível expressão de semblante. A maneira mais comum de
representá-la é sob a forma de esqueleto, descarnada atravessa
todos os portais para aplacar sua fome e sede sem aceitar nenhum tipo
de negociação.
Quando
estamos sob o terror da perda corremos o risco de nos comportarmos de
modo extremo e até paradoxal. O medo da perda é o gerador das mais
intensas angustias a nos influenciar no comportamento e em nossa
subjetividade. Nesse momento é imprescindível que estejamos a par
de nosso sentimento e de nossas emoções de uma maneira honesta e
objetiva. Se precisarmos de um auxílio ou de orientação
psicológica lembremos que sozinhos não conseguimos restaurar um
dente ou um pé quebrado embora saibamos o quanto dói, o mesmo
acontece com a ferida emocional e psicológica.
Os
valores aos quais atribuímos a felicidade tornam-se inconsistentes
quando pensamos na possibilidade da finitude da vida. Usualmente
modificamos comportamentos, transformamos atitudes e adquirimos novos
conceitos quando admitimos que em algum momento perderemos a
oportunidade de estarmos no mundo com as coisas, com as pessoas e com
nós mesmos. Quando a perda é o fim de uma relação, temos de nos
haver com o nosso sentimento de apego e acabar por respeitar a pessoa
que não mais deseja que sigamos juntos.
Quando
a morte encerra em si um cunho esotérico, sabemos que a morte é
apenas uma passagem para uma nova forma de existência. Quando ela
vem de modo psicológico sabemos que deixamos um nível de maturidade
psíquica para alcançarmos um nível maior. A perda então, em ambas
as situações, é assim recompensada.
Entretanto,
quando perdemos alguém muito querido de modo irreversível para a
morte, não existe ressignificação que possa nos acalentar. Dizem
que somente o tempo cura essa dor. Em muitos casos essa afirmação
não procede. Em muitos casos, a perda que sofremos torna-se um
templo de dor e tristeza que volta e meia o revisitamos e ali
depositamos nossas melhores lembranças, nossos melhores momentos
junto àquela pessoa que se foi e o lamento por não estarmos mais
unidos e abrigados pelo nosso afeto.
Quando não podemos compartilhar da ideia desse templo com alguém,
nem que seja uma só pessoa nesse vasto planeta, aí sim estamos
muito sozinhos mas, vamos em frente porque a vida é tão forte
quanto a morte e por mais que tentemos nos livrar da vida por estar
sem aquela pessoinha que se foi, a vida nos agarra e se entranha e
diz “não é para agora”. Nesse momento, com as lagrimas
escorrendo e transbordando por todo nosso corpo, sabemos que teremos
de seguir adiante. E a gente vai assim, carregando o luto que se
tornou o templo que se fez daquele pedaço de nosso coração que se
foi com a pessoa amada.
Em
tempo de Covid 19, lamento as perdas que ocorreram em todo o mundo e
a dor que se revela na coletividade planetária. O luto nos alcançou
a todos e a dor é palpável. Embora muita gente queira minimizar o
acontecido com doces palavras, estas não conseguem refrear a verdade
psíquica de quem sofre.
A
vida nos quer para si, reservemos o nosso templo para a dor da perda,
e acalentemos a intensidade de vida porque aqueles que amamos e que
aqui ainda estão, com certeza, desejam que nós estejamos bem e
seguindo em frente.