O Centauro Quiron da miologia
grega é o representante do profissional de saúde. Na mitologia ele
é um centauro, possui um torso humanoide unido as quatro patas de um
cavalo.
Habilidosos
com o arco e a flecha nos faz compreender que o curador ou curadora
deverá possuir um foco reto e ágil em sua habilidade de cura e
tratamento.
Após
as batalhas contra os deuses conhecida como Centauromaquias, Quiron
foi poupado por se haver ficado ao lados dos deuses. Diferentemente
dos demais, Quiron possuía sensibilidade curativa e logo se converte
na primeira deidade da Terapêutica e da Cirurgia. Nos clássicos
gregos, aparece como educador e mestre na arte de curar.
Tratou
de vários heróis gregos e romanos, incluindo Aquiles, Enéas, Teseu
e Jasão, sendo também o mestre de Asclépio, o deus da Medicina.
Acidentalmente
foi ferido por Hércules através de uma flecha envenenada pelo
sangue da Hidra de Lerna. Sendo ele imortal, seu sofrimento não lhe
dava o descanso da morte até que resolveu passar sua imortalidade ao
titã Prometeu que seguia em sofrimento ao, todos os dias, ter
devorado seu figado por uma águia como castigo dos deuses
principalmente por haver entregue aos humanos o poder do fogo. Nesse
momento ambos feridos se encontram na história. Quiron e Prometeu.
Quiron
então entrega sua imortalidade a Prometeu ao mesmo tempo em que o
liberta de seu sofrimento diário em troca da libertação de seu
próprio sofrimento.
Assim
que se torna mortal, o veneno da Hidra cumpre seu papel e ele
finalmente se eleva aos céus feito uma constelação conhecida hoje
dentro da elíptica de Sagitário.
Seu
nome, Quiron, foi dado a um asteroide descoberto em 1977, que tem um
diâmetro de 320 Km e uma excêntrica órbita entre Saturno e Urano,
completando sua órbita ao redor do Sol a cada 51 anos.
Quiron
é a figura arquetípica relacionada as todas as profissões que, de
um modo ou de outro, trata da saúde física e mental dos humanos. É
o modelo do médico ferido que exatamente por vivenciar a dor, sabe
conduzir seu paciente ou cliente através do processo de cura ou de
transformação.
Para
o Dr. Carl Gustav Jung, todas as profissões seguem um modelo
arquetípico e, consequentemente, tem seu lado de luz e tem seu lado
de sombra. Torna-se
sombrio quando a
situação emocional subjacente no
tratamento parece não
ser o bem estar do protegido mas sim o poder do protetor.
Em
sua própria consciência e diante do mundo, o profissional sente o
desejo de ajudar como sendo a principal motivação. Infelizmente, e
não raramente, o oposto pode vir a se constelar na relação que é
o de se sentir poderoso diante da fragilidade do outro ou mesmo em
despotencializar esse outro que lhe chegou desnudo lhe pedindo
auxílio.
No
juramento de Hipócrates consta que o médico adotará um regime para
somente o bem do enfermo, que sua habilidade e julgamento se fará
tão somente para sua edificação e jamais para lhe causar
sofrimento e de que sua vida e sua arte lhe são sagradas
afastando-se da corrupção e do mal.
Essa
concepção do médico é a matriz difundida na consciência
coletiva, marcando um comportamento mítico, respeitoso e
reverenciado perante a figura médica.
Esse
poder que lhe é atribuído antes mesmo de uma consulta, influencia a
mente de quem precisa de cuidados a ponto de sentir alivio de seus
sintomas ainda na sala de espera o que dirá, então, ao estar sob a
aura do medico que mesmo sem o saber é o simbolo do poder
regenerativo e de guia no processo contra a dor.
Que
bom seria se os médicos tivessem essa noção! E por muitas vezes,
assistimos o profissional da saúde em sua arrogância e completa
distancia afetiva e emocional, pior ainda, acreditando piamente que
essa deve ser a sua postura e dela se orgulhando!
O
lado sombrio da atividade medica não consta no juramento de
Hipócrates quando o profissional da saúde usa seus conhecimentos
tão somente em proveito próprio.
O
charlatanismo é um tipo de sombra que acompanha permanentemente os
profissionais. É quando do juramento de Hipócrates surge a
considerável pressão para que desempenhe o papel de hipócrita em
diversas situações, e o corporativismo não deixa de ser um deles,
inclusive na falsa amorosidade.
Apesar
de o relacionamento medico/paciente não ser o objetivo, não se pode
esquecer da influencia que se exerce de uma personalidade para outra
e de como tal influencia pode ser criadora ou até mesmo
avassaladora.
O
deus da Medicina pode, inconscientemente, assumir a consciência do
médico que se apresenta soberbamente bem como o faria um deus!
De
qualquer modo, o medico pode fechar a ferida mas algo no corpo do
paciente deve cooperar para que a enfermidade seja vencida.
E
é meio caminho andado quando o médico se utiliza de seu poder
arquetípico de modo consciente. Há muitos relatos atestando que só
de ver o medico já sentiu melhora.
O
profissional da saúde precisa ter consciência de que não há
separação entre saúde mental e física. Se nem mesmo a pandemia do
coronavírus que hoje enfrentamos não serviu para identificar essa
unidade, então só há um caminho para se fazer: a psicoterapia para
finalmente encontrar o Quiron, o Centauro ferido!
A
melhora no quadro clinico que se faz somente com uma consulta médica
, se dá devido a emanação inconsciente dessa autoridade maior e
aparentemente mágica advinda do próprio arquétipo. É, em verdade,
uma identificação psicológica com aquele profissional que está de
fato fazendo um bom trabalho ao saber que somente o ferido pode curar
o outro ferido. Que não é apenas de recursos técnicos que ele
lança mão, mas sim que é sua própria personalidade que produz
efeito sobre o paciente.
Quando
não, o paciente se sente ainda mais desanimado, com a sensação de
piora e de que ninguém poderá ajudar.
Quer
queira, quer não queira ver e se conscientizar, nos relacionamentos
entre o cuidador e aquele que necessita de cuidados ocorre um desafio
que se produz sem palavras, mas repleto de subjetividade afetiva e
emocional e esse desafio só será frutífero se brotar do sentimento
de acolhimento, pois que somente assim o curador estará vulnerável
e, por assim dizer, capacitado a seguir junto ao seu paciente no
processo que se instalou desde o primeiro momento em que se
encontraram.
Os
colegas de trabalho podem exercer grande influencia dobre o
profissional de saúde e nesse caso, deve haver consciência do
perigo de que se transformem em cúmplices na batalha silenciosa
contra o processo afetuoso necessário ao poder curativo de modo a
evitar contestar o colega para não se verem contestados a si mesmos,
fornecendo assim armas adicionais contra o bom desenvolvimento
psicológico e subjetivo.
Se
o relacionamento médico/paciente for contaminado por tais
adversidades, pode se transformar em algo marcado pela rejeição dai
então, a poção curativa se transforma em veneno talvez até mesmo
mortal dependendo do caso.
A
frase escrita pelo Centauro Quiron: “Curo o mundo através de minha
própria cura”, continua sendo o melhor proposito daquele ou
daquela que pretende ser cuidador ou cuidadora da saúde das pessoas.
Lunardon
Vaz