Tenho acompanhado alguns comportamentos que a princípio
parecem ridículos como cuidar de bebê “reborn“, adultos chupando chupeta ou se
identificando com animais, são chamados de “therians” que significa animal.
Outros inconformados com a família em que nasceu carregam
mágoas, ressentimentos e chegam ao ódio a ponto de assassinar pai, mãe, irmãos,
as vezes nem o cachorro escapa.
Ainda outros ao possuírem filhos os objetivam, os tomam como
seus objetos de uso pessoal ou de venda.
Há aqueles que em nome de uma ideologia se desprendem
completamento dos laços afetivos e mergulham naquilo que seu grupo idealiza.
Proclamando liberdade e revolução esses grupos matam, destroem tudo aquilo que
entendem ser contrário ao seu ideal. O mesmo se dá quando se trata de religião
e a história traz comprovação sobre esse fato.
Fica ainda pior quando religião e política se dão as mãos
para pregarem sua única verdade, novamente aqui, através da história milenar as
comprovações das matanças e das destruições abundam. Há de se perguntar por que
tudo se repete¿
À par disso tudo, temos que o quociente de inteligência dos
humanos diminuiu. No Brasil ele está em 83, mal se consegue amarrar um cadarço
de sapato com uma inteligência tão baixa o que dirá elaborar reflexões
profundas sobre seu meio e sobre sua ocupação da vida.
Adultos chupando chupetas revela uma regressão, mas essa
constatação não ajuda. É preciso verificar o motivo dessa situação regressiva.
Parece que desejam retornar a um grau de vivência sem as preocupações da esfera
adulta, exercer sobre si mesmo a distração, a abstração de sua realidade da
qual querem se livrar ou ao menos escapar por algum tempo. O mesmo ocorre com a
ingestão de bebidas alcóolicas, onde o sujeito fica “mamado” no dito popular.
Ocorre também na condição do uso de drogas licitas e ilícitas.
A realidade da vida adulta está sendo rejeitada e ao invés de
encarar o problema e o transformar, usam a saída da sublimação, aparentemente
mais fácil, mas a médio e longo prazo as consequências são desastrosas
inclusive com danos físicos além dos mentais.
Quando falo com algumas crianças que se sentem abandonadas ou
abusadas por um dos genitores, usualmente elas falam que no futuro terão filhos
e que serão os melhores pais do mundo.
Sua falta será recompensada ao investir o amor e o cuidado no
filho que um dia terá. Sabem o que NÃO fazer e tratarão de fazer aquilo que
gostariam de ter recebido.
Acontece que cuidar de um bebê requer disposição afetiva e um
quantum de energia psíquica avantajado para gerir e criar um ser humano. O
investimento é alto. Melhor arrumar um bebê de plástico.
Novamente, a realidade imediata não foi contemplada, a
preferência recaiu sobre a sublimação.
E quanto aos “terians” ¿.
Aqui podemos dizer que não apenas a realidade não foi contemplada como
também houve uma despersonalização, uma negação de sua própria identidade a
ponto de assumir uma identidade animal se beneficiando da condição de não se
responsabilizar pela sua ocupação existencial.
O mesmo se dá com os filhos que culpam os pais pela sua
existência, pelos seus desejos não realizados, pelos seus sonhos não vividos.
Em todos esses casos, não encontraram o seu lugar de
pertencimento e alguns sonham em se mudar de casa, de trabalho de país, quiçá
de planeta, porém, a falta de pertencimento irá acompanhar onde quer que
estejam porque mais do que nunca em nossa história humana precisamos do
acolhimento de nós mesmos, devemos procurar o pertencimento dentro de nós para
depois buscar pertencer a outros lugares, porque dessa forma estaremos já
imbuídos de critica e auto critica, bom senso e sensibilidade e razão
conscientes.
Depois de nosso nascimento, é como se fossemos pintados de
verde e jogados no mato. Não há receita de viver. Viver é uma arte em que instintos
e razão deverão estar combinados, ajustados, numa composição que leva à razão
sensível.
Em nossa cultura, o que temos é um agravamento dos instintos
ou um agravamento da razão. Ainda não existe a boa composição, esse é um
trabalho solitário daqueles que são curiosos e arrojados.
Há várias causas que colaboraram para com o colapso da vivência
humana. Escolas, religiões, consumismos, relações superficiais e artificiais,
mídias sociais que tratam de superficialidades, o medo e a negação da morte
numa busca constante por juventude, custo de vida caríssimo, falta de educação
e de saúde.
Ser adulto hoje significa pagar boletos, se sentir
injustiçado, sem reconhecimento de qualquer espécie, e sobretudo impotente para
mudar o jogo onde a gente é só o pião nesse tabuleiro, tem também a opção de se
tornar um criminoso porque na realidade a gente tem visto que os criminosos
estão sendo recompensados.
No entanto, a maioria
das pessoas não tem estomago para o crime, então a ilusão prevalece sobre as
opções. Se vocês bem reparam, tudo virou em distração. A vida social só
acontece em termos de distração, futilidade e artificialidade.
A mente
desperta, focada, adulta, não se contenta com essas banalidades correndo o
risco de adoecimento ou de sair em busca de entorpecimento.
Os vídeos games tratam de forma realista a matança e as
crianças, que não possuem ainda a maturidade necessária para separar o joio do
trigo, tomam isso como um aprendizado. Sem contar com a adultização infantil
cujo apelo chega às crianças por várias vias, inclusive pelos pais abusivos,
por anúncios, filmes, jogos, etc.
A realidade é que precisamos de laços afetivos, precisamos de
amor e de reconhecimento. Precisamos sentir pertencer a um lugar, a uma
família, a uma crença ou a uma ideologia. No entanto, fazer isso se
despersonalizando ou se mantendo em estado ilusório é um caso de doença mental
quando não ocorre doenças psicossomáticas.
A desconexão consigo mesmo transcendeu para a desconexão
coletiva experimentada em um fenômeno social.
O abandono dos valores morais e dos princípios éticos seja em
decorrência da ideologia política que tem por princípio derrotar a qualquer
custo seu oponente ou seja em decorrência da religião que proclama que o seu
deus é o correto e os demais que a ele não rende homenagens deve morrer, tornou
a população num bando de zumbis emocional que seguem o seu mestre sem raciocinar.
Esse desejo de pertencimento projetado no outro ou no grupo ou em objetos está
nos levando a odiar o humano e é extremamente incoerente posto que o nosso
primeiro pertencimento está em compartilhar o mesmo DNA entre os humanos.
Enfim, há de se fazer um verdadeiro desmoronamento do que
está influenciando nosso comportamento para criar outras bases e que elas
estejam de acordo com a sensibilidade humana e de sua razoabilidade.
