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Para Thaís Mocelin, jornalista da equipe de redação da revista Ampla, publicada pela Unimed Paraná.
Texto elaborado por Sonia Regina Lunardon Vaz – Analista Junguiana – em 17.06.2024.

Os sonhos desempenham diversas funções importantes, tanto do ponto de vista psicológico quanto biológico.
Segundo Sigmund Freud, os sonhos são uma linguagem disfarçada que revela desejos reprimidos.
Carl Gustav Jung, por sua vez, via os sonhos como uma forma de compensação, essencial para manter o equilíbrio da mente, ampliando seu papel como expressão do inconsciente.

Na interpretação freudiana, os sonhos são vistos como uma expressão do que ocorreu no estado de vigília, e, portanto, sua interpretação está voltada para o objeto. Já para Jung, além de considerar os acontecimentos, a ênfase está na interpretação voltada para o sujeito.
Explico: se o sonhador tiver um sonho em que é perseguido por um homem, isso pode significar que ele não está estabelecendo uma boa relação com sua própria energia psíquica, a qual poderia trazer mais assertividade e razoabilidade. Nesse caso, é necessário examinar o contexto atual da pessoa para identificar em que aspecto de sua vida sua atitude está nublada, a fim de aplicar uma consciência crítica.

Ao contrário de Freud, Jung também propôs que se deve considerar a sensibilidade espiritual, que lida com a expressão do pensamento primário carregado de imagens e suas representações. Essa sensibilidade pode ser observada em todas as religiões desde o início da humanidade. Contudo, com o tempo, a aquisição do processo secundário — o uso da razão — trouxe novas formas a essa sensibilidade espiritual. O conceito de espiritualidade, portanto, não se limita à religião, mas se expande para as ciências e as artes de modo geral. Por isso, devemos entender que o inconsciente possui uma função criativa, que se expressa também nos sonhos.

Não é à toa que várias descobertas científicas e artísticas começaram com sonhos altamente significativos para os sonhadores. Somos, então, tanto individuais quanto coletivos, pois os arquétipos — que são matrizes de pensamento presentes desde o início da humanidade — têm uma grande influência sobre nós, e essa influência pode ser observada através dos sonhos.

Sonhos repetitivos têm um conteúdo significativo que deve ser resgatado pela consciência e trabalhado juntamente com o processo racional. No âmbito coletivo, podemos observar arquétipos como a busca pelo poder e a busca pela magia. Quando esses arquétipos se combinam, a ganância pelo poder pode gerar fome, miséria e guerras, situações que temos observado desde os tempos mais remotos e que, infelizmente, continuam a se repetir até hoje, sem que haja uma apreciação do fato psicológico coletivo por meio do raciocínio.

Sonhos recorrentes e acontecimentos repetitivos exigem análise e transformação, que devem ser realizados em conjunto com o pensamento racional.
Para Freud, o inconsciente é um repositório de desejos reprimidos. Para Jung, o inconsciente possui uma função criativa e transformativa, tanto para o indivíduo quanto para o coletivo.
A pergunta que fica é: quando a coletividade irá se debruçar sobre essas questões, contemplando o raciocínio lógico em oposição à impulsividade dos instintos, para transformar o impulso do poder em uma força de solidariedade, colaboração e abundância, ao invés da sede destrutiva de poder, marcada por disputas e egocentrismo, que acabam destruindo civilizações e gerando escassez?

Uma das principais funções dos sonhos é promover a homeostase do organismo. Constantemente, recebemos imagens, informações sensoriais e impressões. Se tudo fosse processado pela consciência, o sistema seria sobrecarregado, prejudicando o organismo. Por isso, a descarga psíquica através dos sonhos é necessária. Sonhamos entre seis a oito vezes por noite e, se houver privação do sono na fase REM — quando ocorrem os sonhos mais vívidos —, pode-se experimentar delírios e fantasias durante a vigília.

Outra função importante dos sonhos é estabelecer a conexão entre a consciência e o inconsciente. Como os sonhos são uma linguagem primária derivada dos instintos, reconhecê-los equivale a aproximar os instintos da razão. Lembramos que quanto mais afastados estiverem os instintos da razão, mais o indivíduo estará comprometido com a neurose. Registrar os sonhos, falar sobre eles ao acordar ou mantê-los num “caderninho de sonhos” é uma forma de prevenir a neurose.

A análise dos sonhos também funciona como um treinamento para enfrentar situações difíceis, sugerindo ao sonhador caminhos que ele não percebeu em estado de vigília, mas que seu sistema sensorial registrou. Essa comunicação do inconsciente com a razão ocorre através dos sonhos.

De maneira geral, o olhar ocidental está mais voltado para o exterior, buscando realizações e concretizações de metas. A vida social é vista de forma extrovertida e participativa. Usualmente, não somos orientados a dar atenção à linguagem simbólica dos sonhos e suas implicações para a saúde mental e emocional. O máximo que se faz é procurar o significado do sonho em algum lugar, ou até mesmo consultar o jogo do bicho, atitudes que consideram apenas a interpretação voltada para o objeto, negligenciando a importância da interpretação voltada para o sujeito, especialmente no que diz respeito à saúde mental.

Para quem deseja compreender melhor os sonhos, recomendo familiarizar-se com a linguagem simbólica através do estudo de mitologias e contos de fadas. Além disso, manter um “caderninho de sonhos” é uma prática que demonstra atenção ao que o inconsciente está comunicando, o que, por sua vez, faz com que ele continue se comunicando de forma mais clara.

Porém, se a pessoa estiver estressada — seja por boas ou más causas —, dificilmente conseguirá se lembrar dos sonhos, pois o organismo irá censurá-los para não sobrecarregar o sujeito. Este é mais um lembrete para o autocuidado.

Por outro lado, como sonhar já é um saber, o ego pode não estar disposto, por qualquer motivo que seja, a contemplar sua saúde mental, o que exigiria disposição e investimento de energia psíquica. Muitas vezes, essa manutenção da saúde mental é negligenciada e descartada. Essa atitude de negação é um mecanismo de defesa conhecido como resistência.

O Princípio da Inércia, formulado pelo físico Isaac Newton, afirma que um corpo em repouso tende a permanecer em repouso. Todos nós tendemos a economizar energia psíquica, o que leva à conclusão de que a ignorância se torna a melhor aliada.

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