Muitos podem perguntar: Mas o que é conquistar a imortalidade?
Deve haver muitas respostas para tal questão, mas aqui, em Psicologia Analítica, significa conquistar a honestidade para consigo mesmo, o que implica em maior autonomia psíquica e, consequentemente, diferenciação da consciência coletiva.
Afrodite, a deusa alquímica, propõe a Psique tarefas para reconquistar seu amor perdido. Esse amor perdido é Eros, a energia psíquica que enlaça o indivíduo com todo seu entorno.
Imagine uma única pessoa, através do amor representado por Eros, adquirindo consciência planetária! Afinal, os grupos são feitos por indivíduos!
Em sua quarta e derradeira tarefa, Psique deverá buscar uma caixinha que contém a beleza e juventude eternas lá no Hades, a ser-lhe entregue pela guia das almas, Perséfone.
Terá de viajar pelo rio Estige, o rio dos mortos, e depois enfrentar Cérbero, o cão guardião dos Infernos. Psique fica desconsolada; essa tarefa lhe parece a pior de todas. Ninguém volta do Hades, e ela teria de ir e voltar.
Impossível, pensa ela.
Por amor, tudo é possível. De modo que, desta vez, uma Torre veio ao seu auxílio e assim a orienta:
“Deverá levar duas moedas e dois pedaços de pão de cevada. Deverá recusar prestar ajuda a um homem coxo. Uma das moedas dará a Caronte, o barqueiro que faz a travessia do rio Estige. Deverá recusar salvar um homem que está se afogando. Não deverá se intrometer com as três tecelãs do destino. Uma fatia de pão deverá jogar a Cérbero, o cão de três cabeças e guardião dos portais do Inferno. No caminho de volta, o procedimento será o mesmo. Deverá recusar comer qualquer coisa no reino dos mortos, a menos que seja uma comida simples, como a fatia de pão de cevada que está levando. Perséfone, que recepciona com fartura, desejará compartilhar seu vasto banquete. Você deverá recusar a fartura e sentar ao chão, e não junto à mesa.”
A morte, a transformação, sempre estará presente para o ego que se atreve a escolher o fluxo do rio ao invés de se manter no território seguro de alguma de suas margens.
A vida é um par de opostos. Não se deixe ficar; viva o fluxo produzido pela união desses opostos.
Inicialmente, a Torre foi construída para elevar a mente humana e proporcionar a descida dos deuses, de modo a assegurar a intercomunicação entre o reino dos homens e o reino dos deuses.
Consoante a isso, a Torre foi concebida para restaurar a união entre conteúdos cerebrais e intelectuais com os conteúdos primários, instintuais e selvagens.
E é isso que significa descer aos Infernos.
Caronte, o barqueiro, a energia psíquica que conduz da consciência para o inconsciente e vice-versa, requer que o ego lhe faça o pagamento de ida e de volta. Faz-se necessário um quantum de energia psíquica para fazer a jornada.
Driblar Cérbero, jogando uma fatia de pão para que as três cabeças briguem entre si, liberando o portal, significa que o ego precisa estar atento em não se deixar capturar pelas suas próprias resistências.
E, acima de tudo, para trilhar o seu próprio caminho e viver seu próprio processo, que é único, a pessoa precisa colocar um sonoro NÃO aos processos alheios. Carreguemos o nosso processo. Amamos o outro, mas não temos como viver o seu processo, bem como ele não conseguiria viver o nosso.
Deixar viver e deixar morrer é de grande sabedoria!
Mergulhar no inconsciente requer cuidados e simplicidade – sem afetação, sem muita “sede ao pote”. Não se deixar levar por tanta fartura e nem se fazer importante no banquete servido no inconsciente, que é extremamente sedutor.
Ele pode tomar o ego desavisado e este se perder em suas fantasias e delírios advindos da fartura e do orgulho do ego.
Não se intrometer com as três tecelãs do destino significa não tomar para si os fluxos (fios) que engendram a vida, posto que a substância utilizada não é somente razão e nem somente consciência, garantindo o espaço para o que se ignora, para o inusitado e o imprevisível.
Psique dá conta da jornada e se encaminha para entregar a caixinha à sua sogra.
Mas a curiosidade se interpõe ao dever, e ela, contrariando a ordem de Afrodite, abre a caixinha.
Imediatamente, um sono letárgico a toma, e ela se prostra ao chão.
A beleza e juventude eternas são da ordem da intensidade de vida, e não só de intensidades vive o homem e a mulher!
Eros, já curado de sua ferida, vai ao seu encontro e implora a Zeus que interfira.
Zeus eleva Psique à condição de imortal e moradora do Olimpo. Promove o casamento de ambos, onde Afrodite está presente e feliz.
Essa foi a história da conquista de uma nova consciência, mais abrangente, sem reservas e com acolhimento a todos os seres do planeta.
Psique também é o nome dado ao conjunto de nosso psiquismo e significa o sopro da vida!
17.11.19