Também chamadas de Caritas, as três Graças são deusas na Mitologia Grega. Filhas dos deuses do Olimpo, Zeus e Hera. Em outras versões são filhas de Zeus e da ninfa do mar, Eurinome.
O número três nos reporta à questão da tríplice feminina, de suas três faces que é primeiramente a virgem, aquela que não se deixa penetrar pelo masculino sombrio, e na sequência, a jovem, que abre os caminhos e alimenta as potências e, por fim, a velha, a feiticeira que transcendeu seu aparato intelectual se posicionando no degrau acima da razão e dos instintos.
As irmãs chamavam-se, Aglaia que significa a graça do esplendor; Euphrosyna, que é a graça de caminhar alegremente; e Thalia, o contentamento com gratidão e serenidade. Juntas representam a beleza, a criatividade, a fertilidade e sobretudo, a dança da leveza. Elas são deusas que sabem dançar!
As Graças presidiam os banquetes, os encontros sociais e as ocasiões festivas tanto dos deuses quanto dos mortais. Espalhando com benevolência as alegrias do prazer e da afeição.
Foram temas na pintura Renascentista, como no quadro de A Primavera de Botticelli e As Três Graças de Rubens.
O deus Hefesto era um exímio artesão e em algumas versões do mito das Três Graças, Aglaia seria uma das esposas desse deus significando que através dessa Graça, todo artista, tal qual Hefesto, tem em seu poder a habilidade de criar o belo.
As Musas, inspiram os artistas, mas é através da Graça que o artista concretiza a beleza de sua obra. Isso as torna símbolo do que há de belo e harmônico no humano na representatividade das criações mais elevadas da humanidade.
Quem de nós não se sente tocado frente a beleza?
Os gregos contemplavam o belo. E hoje, pode até ser que exista uma resistência cultural até mesmo contra a beleza física, mas não há como negar que a beleza é um alimento para o espírito. Contemplar o belo nos faz sorrir e até dançar! Ou não, pois o contrário das Três Graças são as Três Erinias, também conhecidas como As Fúrias, dentre elas a de nome Megera.
São elas forças primárias da natureza, renegadas pelo próprio Olimpo, vivem assim, à margem do Tártaro, uma espécie de Inferno para os gregos. Revelam a inveja, o desejo de vingança e a mesquinharia. Ao contrário da Graça, perfazem a desgraça.
De qualquer modo, mesmo que provocando as Erinias ao seu redor, as Graças fazem aquilo que lhes cabe. Tocam o ser com sua beleza a ponto de causar a tal dada afetação seja do alegre prazer, seja da invidia e consequente fúria.
Quando a gente não consegue reconhecer em nós mesmos as Três Graças, a gente só as reconhece nos outros. Parece-nos que somente os outros possuem as Graças.
Da mesma maneira, quando a gente não consegue reconhecer em nós as Três Erinias, dentre elas a própria Megera, parece-nos que somente os outros possuem os desejos e as intenções primárias.
Devido a todas as virtudes das Graças, elas estão associadas a Afrodite, a deusa do Amor. E não faltou quem as tomassem como representantes das três fases do vínculo afetivo.
Em Florença do Século XV os filósofos humanistas diziam que Aglaia seria a primeira fase do Amor, a beleza esplendida! Que Euphrosina seria a segunda fase, o despertar do desejo. E que Thalia representaria a terceira fase, enfim, o alcance da satisfação dessa união amorosa.
A beleza tem uma outra virtude que permeia por todas as Três Graças: a generosidade, a abundância e o prazer dessa querida entrega.
Basta olhar um lindo pôr do sol para compreender a abundante benevolência da Graça. Ou mesmo o sorriso inocente da criança; a gratidão no olhar do ancião; o barulho do vento no trigo ou o rio a desaguar no mar; o brilho das estrelas que insiste em nos chegar, mas que há muito já se foi; aquele texto científico que lançou luz sobre um grande mistério; aquele poema que disse em palavras o que nos ecoou no coração; aquela pintura ou aquela escultura que nos enlaçou e por horas governou nossos pensamentos e sensações.
Enfim, a bondade está em todos os lugares e pessoas. Está no cuidado de um desconhecido. Está no carinho de alguém conhecido. Ela está em nós e não tem como desatar porque faz parte de nossa natureza.
Essa é a Graça!