Baubo é a deusa da obscenidade!
deusa Baubo se constitui em um corpo instintivo saudável, e para o
filósofo Nietzsche, um corpo saudável é um corpo que comporta o
riso!
Era
representada por um corpo robusto, como a maioria das deusas da
antiguidade e tinha a cabeça em cima de seus órgãos genitais. E
ela sempre fazia referência a eles quando entrava em contato com
outras mulheres, levantando a saia e mostrando a vulva, por isso
mesmo fazia rir e muitos a chamam de a deusa da obscenidade e outros
tantos de a deusa da fertilidade. Sua origem remonta o período
paleolítico.
Deusa
do Ventre, ela é radiante e amante do sorriso. Ela é a combinação
de impulso sexual, natural e instintivo, e da arte altamente
elaborada de amar.
Baubo
é símbolo da Grande Mãe, e por ser o ventre faz analogia com a
caverna donde se presume a necessidade de proteção e ternura tal e
qual o feto dentro do corpo materno.
Por
ser o ventre o local da transformação do humano ele é análogo ao
laboratório do alquimista onde o calor propicia a evolução de cada
momento segundo o grau e a intensidade adequados para enfim obter a
prole filosófica, o que significa com sapiência, com sabedoria.
No
entanto, se passar do tempo, o ventre de refúgio terno e propicio
torna-se devorador, é o caso de muitos comportamentos não apenas
maternais como filiais que insistem em permanecer no útero. As
deusas mães, usualmente em todas as mitologias, apresentam esse
duplo aspecto de nutrição, tanto de refúgio e proteção quanto de
tirania e possessividade devoradora.
Ao
contrário, a Deusa Baubo, foge desse aspecto generalizado exatamente
por ser ela a deusa que comporta o obsceno, o riso e a naturalidade
da sexualidade feminina, fugindo completamente do estereótipo
cultural em que foi imposto à mulher que se não se comportasse
feito a virgem seria considerada suja e imperfeita.
Baubo
é a Deusa Suja e se ri e faz rir exatamente por causa disso.
Baubo
é a valorização do aspecto limpo daquilo que nos foi ensinado de
que era sujo.
Quando
alguém chega em meu consultório para uma consulta psicoterápica,
estou em alerta para procurar por sua dor, e todas as vezes ela
resulta de um conflito moral. Nas mulheres, esse conflito moral se
distingue pelo fato de que não foram suficientemente agressivas
diante de seu predador ou predadora quando deveriam ter sido e esse
veneno virou trauma no decorrer de sua existência. Elas tinham de
ser “meninas boazinhas e educadas”, “sorridentes e cordatas”,
sobretudo, caso tivessem irmãos, responsáveis para com eles.
Baubo,
chega e atrapalha tudo com sua obscenidade, conta uma piada horrorosa
de mau gosto e sai dando gargalhada. Não há depressão que resista!
Baubo
vive em cada uma de nós, invariavelmente ela aparece quando estamos
juntas com outras mulheres de nossa confiança, falamos tantas
besteiras e bobagens que, com raras exceções, não deixaríamos um
homem escutá-las. Saímos dessas reuniões repletas de energia.
Plenas e renovadas para de novo enfrentar o dia a dia.
Baubo
é a capacidade que todas nós temos de nos levantar e seguir em
frente depois de um momento de grande dor.
Em
Gaia Ciência Nietzsche diz: “duvido que uma tal dor nos
aperfeiçoe, mas sei que nos aprofunda.” Nos aprofunda em termos do
reconhecimento de que podemos sim ser rejeitadas, podemos sim ser
desamadas, podemos sim deixar de amar, podemos sim rejeitar. E
continua…
…
“Oh, esses gregos! Eles entendiam do viver! Para isto é necessário
permanecer valentemente na superfície, na dobra, na pele…”
Está
aí o corpo saudável!
O
corpo de Baubo! A alegria irreverente, o livre fluxo da sexualidade
natural, a sensualidade feminina que não está apenas em seu
genital, está em sua superfície, em seu andar, em sua pele, em seu
riso, estampada em sua face, em seu olhar, em seu gestos, som e cor,
independentemente da idade porque Baubo é uma anciã.
Salve
Baubo! Ligeira, zombeteira, imperturbável! A melhor arte, a arte de
viver!
Lunardon
Vaz
27.11.2020