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CIRCE – A força indomável do feminino

Circe nasceu na casa do grande Hélio, divindade solar e o mais poderoso da raça dos Titãs, sua mãe foi a ninfa Perseida, de beleza estonteante.

A menina Circe não herda a beleza da mãe, mas sim um charme de deusa. Não herda os poderes do pai, mas sabe fazer uma chama aparecer em sua palma da mão e dançar em seus dedos. Curiosa pelo mundo dos homens foi viver entre eles e ali descobriu seu poder de feitiçaria capaz de transformar seus rivais em monstros, de criar poções mágicas e até mesmo de aterrorizar os deuses.

Zeus, apreensivo com tamanho esplendor, a exila na ilha de Eéia. No seu palácio, Circe aprimora suas habilidades de maga e acaba por se encontrar com as figuras mais poderosas da mitologia grega como o engenhoso Dédalo e seu filho Ícaro; com a feiticeira e sanguinária Medéia, com o terrível Minotauro e com o grande herói Ulisses.

Conta o poeta Homero, que Odisseu, após a batalha em Troia, seguiu mar adentro com seus argonautas em direção à fabulosa ilha de Eéia.

Ulisses enviou 23 naus para explorarem o local enquanto permaneceu navegando nas proximidades. A grande maga os recebeu cordialmente. Serviu-lhes um banquete e somente Euriloco não participou da oferenda, prudentemente, preferiu esperar às portas do palácio.

Diante da voracidade e dos maus modos ao se alimentar de seus convidados, a feiticeira Circe os comparou a porcos e imediatamente puxou de sua varinha e zás, os transformou nesses animais conservando apenas seu estado psíquico de humano. Assim era Circe. Sempre que alguém lhe assemelhava a algum tipo de animal em desconsideração a sua própria humanidade, Circe a transmutava naquela forma selvagem. Por isso, nos arredores de seu palácio, havia várias espécies de animais como onças, gorilas, jabotis, jumentos, crocodilos, chacais e outros, todos, porém, não atacavam aqueles que ali chegavam muito pelo contrário, se apresentavam dóceis e carentes, buscando serem notados e acariciados, talvez na tentativa de comunicar seu real estado humano por detrás da magia de Circe.

Euriloco, por não haver participado do banquete, saiu ileso e pode correr até Ulisses para relatar a triste ocorrência que testemunhou com seus companheiros. O herói Ulisses pôs-se a caminho de seus nautas, quando já se aproximava do palácio lhe apareceu Hermes sob a forma de um belo adolescente que lhe ensinou o segredo para escapar de Circe e reverter seu feitiço junto aos seus companheiros. Deu-lhe a planta magica que deveria ser colocada na beberagem venenosa que lhe seria ofertada. Ao penetrar no palácio a feiticeira logo lhe serviu a bebida e confiante tocou-o com a varinha ao ver que a magia não surtira efeito ficou surpresa e imediatamente, como de acordo com o conselho de Hermes, Ulisses exigiu a devolução dos companheiros.

Circe admirou o feito e mais que tudo, ascendeu sua curiosidade. Curiosidade feminina! Convidando-o a ali permanecer e usufruir de seu amor. Foram amantes por um ano até que Ulisses retorna para sua jornada da famosa Odisseia, inclusive com o auxilio de Circe enfrenta e sai glorioso de várias outras batalhas pelo mar afora.

Para a psicoterapeuta Analítica Junguiana segundo a Dra. Marie-Louise Von Franz, primeiramente, há de se perguntar o que significa para um humano ser metamorfoseado em um animal, fato comum em muitas culturas pelo mundo.
Von Franz analisa que diferentes animais possuem diferentes comportamentos instintivos, se um tigre se comportasse feito um esquilo nós o chamaríamos de neurótico por ele estar fora de sua própria órbita instintual e sendo dominado por um instinto unilateral que perturba sua condição natural de tigre.

Assim, de acordo com a interpretação da Dra. Von Franz, ser convertido num animal não é viver de acordo com os próprios instintos, mas certamente ser parcialmente dominado por um impulso instintivo de que o ego deveria se apropriar para não se deixar tomar. Temos em nós um macaco, deveríamos então, nos abster das macaquices para não reduzir o que há de humano em nós, afinal caminhamos por um longo caminho para atingir o desenvolvimento. Entretanto, tem muita gente se orgulhando das suas macaquices, sem contemplar em nada o desenvolvimento cerebral que, a princípio, se fez durante séculos!

Em segundo lugar, está a ingestão de determinadas plantas como antidoto eficaz que evita que o humano seja transformado em animal ou mesmo que permaneça como animal. Esse efeito terapêutico encontra-se em várias lendas em relação às rosas, lírios e outras ervas medicinais.

A flor é idêntica ao elixir da vida. Sua floração expressa o estado primordial. A rosa, particularmente, traduz a alma, o coração e o amor.

Homero relata que após a ingestão da planta, os argonautas retomam sua forma humana demonstrando estarem remoçados e com mais força em sua personalidade.

Alguns escritores dizem que Circe precisa decidir entre viver no mundo dos mortais ou dos deuses. Acontece que Circe vive numa ilha entre mundos. Ela já fez sua escolha. Vive nos dois mundos. E tem o poder para isso. Outra de sua capacidade eximia é a de tecelã. Dizem que sua tessitura é de tal resplendor e brilho que aparenta possuir três dimensões. A tessitura dessa mulher é composta pela mortalidade e pela imortalidade.

Circe é a celebração da força indomável de uma mulher em meio aos mundos comandados pelos homens. Não é a toa que o poderoso Zeus, símbolo do estado patriarcal, teme sua força e poder, contudo, ao tentar anular o feminino provoca ainda mais sua poderosa manifestação, pois tudo aquilo que é rejeitado e reprimido no inconsciente mais dias menos dias, magicamente fará sua aparição e aí haja rosas, lírios e ervas medicinais e Hermes ou Mercúrio para os romanos, para conduzir a alquimia no corpo humano seja no corpo individual ou no corpo coletivo.

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