O estudo da alquimia nos chega como uma metáfora para o
desenvolvimento do humano e de suas relações.
Verificada
a luz do elemento simbólico é, em particular, do interesse
analítico na transformação da personalidade como também na
transformação social e coletiva.
Os
alquimistas dos séculos XV e XVI tinham como objetivo transformar as
matérias básicas em ouro ou em um elixir universal como também em
libertar a alma de sua prisão corpórea numa transformação
transcendental.
Em
Psicologia Analítica, os instintos contam como matéria básica a
serem transformados em ouro, o que significa, após todo o processo
alquímico, que os instintos passam a ser respeitos e acolhidos pelo
ego sem que esse se deixe tomar por eles, numa perfeita gestão dos
afetos e dos sentimentos.
Libertar
a alma ou psique, de sua prisão de consciencia coletiva, não é vista
como uma tarefa religiosa, mas antes como a tarefa de educar a psique
para que a pessoa possa pensar a si mesma de modo ético e temperado de
acordo com todas as suas contradições, até abandonar a dicotomia
ao perceber a si e ao mundo como uma totalidade que abarca todas as
diferenças.
Seria,
em suma, a restauração do ser humano, uma nova evolução em seu
estado como humano.
Desde
Demócrito, a meta da Alquimia tem como lema o princípio de origem
pagã: “A natureza alegra-se com a natureza, a natureza triunfa
sobre a natureza, e a natureza governa a natureza”.
A
natureza é a própria transformação que não tem a tendencia ao
isolamento, ao contrário, tende para a união, para a festa nupcial,
seguida de morte e de renascimento em seu desdobramento finito e
infinito.
É
no relacionamento amoroso que encontramos a Grande Obra alquímica ao
promover no casal o encontro que modifica ambas as personalidades
envolvidas e a partir daí, o crescimento interno que por si só
procura estabelecer vínculos duradouros e transformativos.
Nessa
alquimia, a consciência se desprende do seu objeto afetivo se
dissolvendo em contemplação donde tal objeto afetivo não é mais a
razão ou o objetivo de seu poder, mas a beleza etérea do amor.
A
energia psíquica se livra do pensamento que busca encadeamentos
externos e internos para se concentrar no momento presente sem anular
a existência da finitude.
Quando
o relacionamento se fixa num padrão tóxico, pela lei alquímica, é
o momento do reconhecimento do sombrio num esforço de compreender o
mundo arquetípico da psique, compreender o perigo da fascinação
que ameaça o lado racional, proceder à separação dos metais vis
dos metais nobres, e com os vis metais dar continuidade à Grande
Obra, através da putrefação, depois pela mortificação e finalmente pela conjunção.
Esse
é o relacionamento que mais define a iniciação do neófito em
termos espirituais e o caminho da individuação nos termos da
psicologia arquetípica, pois que é o fio da navalha,
desconcertante, perigoso e único caminho que se apresenta; andar no
fio da navalha sem incorrer em quedas fatais para a psique.
Entendendo
que depressão, fixação no objeto amoroso, negação de finitude,
euforia sexual e social, determinam as quedas fatais pós termino de
relacionamento e durante ele qualquer dependência ao estado alterado
de consciência produzido por racionalização, por negação, por
substancias licitas ou ilícitas, são fatais para a queda livre.
Daí,
ser o fio da navalha o único caminho apresentado ao neófito ou
neófita, compreendendo que o fio da navalha requer o confronto com o
seu próprio lado sombrio.
Com
certeza, a maioria das pessoas se pergunta para onde estamos indo em
termos de civilização já que o que se apresenta no momento são
perspectivas sombrias. Os estudos da Psicologia Arquetípica também
se pergunta e investiga.
Como
já nos alertou o filósofo alemão Nietzsche, essa é uma era de
transvaloração dos valores, e parece que tudo está determinado a
putrefação moral e ética. A decadência humana parece ainda não
haver chegado ao fundo do poço. É porque os processos alquímicos
de toda uma civilização tem o seu tempo que para o indivíduo
transcorre de modo lento e parece jamais chegar.
Se
para uma única pessoa essa transformação leva alguns anos de
trabalho e vigília de si mesmo, imagine quanto tempo será
necessário para toda uma civilização? Não podemos esperar que
aconteça em 50 e talvez nem mesmo em 100 anos.
O
panorama é escuro feito breu, porem enquanto ocorre a decadência
surge também a ascendência pois que os opostos estão sempre
presentes. De modo que nesse quadro pintado de escuridão está
brotando as sementes que posteriormente trarão flores alienígenas
de tão diferentes do que hoje se nos apresenta como humanos.
A
transformação coletiva de individuação irá acontecer tal e qual
como tantas outras já ocorreram, por exemplo, com a descoberta do
fogo tudo mudou e posteriormente e mais próximo de nossa memória,
quando a função racional veio se juntar à psique instintual, a
mudança foi tão intensa que até hoje estamos nos debatendo para
fazer uma composição entre ambas.
Que
as belas flores alienígenas continuem a germinar e a florescer
independentemente dessa escuridão passageira.