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MAPINGUARI – O ULTIMO HOMEM SELVAGEM – lenda brasileira

O Mapinguari é considerado como sendo um monstro. Muito popular na Amazônia e pela população nômade que mora nas matas, subindo os rios e acampando nas margens desertas dos lagos e lagoas sem nome.

É descrito como um homem agigantado com cabelos longos que recobrem seu corpo como um manto, de mãos compridas, unhas em garra e fome insaciável. Ágil na matança, mata somente para comer.

Praticamente indestrutível, seus grandes pelos o protegem até mesmo das balas, que não conseguem penetrar para atingir seu corpo. Possui uma vulnerabilidade somente no umbigo, significando que um dia nasceu de outro nascido. Por isso, embora pertença a uma linhagem pouco compreendida, é um ser vivente como todos os outros que habitam a Terra.

E como não se deixou enredar por qualquer tipo de religiosidade, a população começou a acreditar que ele é a encarnação do mal.

Mapinguari, ao contrário de outras entidades fabulosas, não anda durante a noite. Durante a noite ele dorme. O perigo é de dia, na penumbra no meio das florestas fechadas que mal deixam passar a luz do Sol. Na obscuridade dos troncos de muitas formas, o Mapinguari se destaca, surge bruscamente para atacar e ferir, e, quando mata o humano, devora apenas a sua cabeça.

Contrariando a lógica dos monstros, Mapinguari não avança silenciosamente; vem berrando alto, gritos soltos, curtos, horríveis, que deixam suas vítimas atordoadas e sem ação.

De longe dá para ouvir os seus gritos pela floresta afora. Parece até que está desafiando os mais corajosos a se haverem com ele face a face.

Afinal, quem é o Mapinguari? O que aconteceria conosco se, de repente, com ele nos deparássemos por entre as sombras da floresta?

Em primeiro lugar, a floresta representa nosso habitat natural. As sombras que produz durante o dia podem ser vistas como as nuances dos nossos pensamentos e sentimentos, e até mesmo percepções subliminares que não reconhecemos conscientemente, mas que ali moram e se refletem em nosso dia a dia.

Lá em sua profundidade, ouve-se, volta e meia, um grito insano que nos paralisa. É o nosso ser natural, há muito reprimido pela civilização e pelos bons costumes.

Tão reprimido que a consciência do ego dele se desconectou, vivendo apenas os aspectos fúteis e superficiais da existência. Bem por isso que, quando ele nos encontra, nos devora a cabeça.

A cabeça pensante que se acha a única mandante do corpo. A cabeça que, em nossa civilização, se desenvolveu unilateralmente, sem deixar espaço ao ser natural, que abruptamente e sem aviso pode nos tomar.

Se, no entanto, tivermos a coragem de olhar para ele frente a frente e reconhecer que segue pela categoria de força e não pela moral, e que ele é nossa maior força da natureza, se o considerarmos e o ouvirmos diariamente, tornando-o nosso convidado bem-vindo, então, Mapinguari vai aos poucos compondo com a nossa cabeça uma melodia balanceada cuja harmonia nos trará a cordialidade genuína para com nossos paradoxos e, consequentemente, para com todos os seres do planeta.

Suponhamos que, ao invés de descrever a inteligência da Natureza usando uma palavra abstrata como consciência, nós a imaginássemos como uma personalidade. Mapinguari se encaixaria perfeitamente.

O ser natural em nós é o protetor da Terra. Aquele que está disposto a deixar a vida agitada e é capaz de escapulir para longe ou de aparecer subitamente de modo inesperado numa conversa ou numa reunião entediante.

Junto a esse ser natural, em consonância com a força da natureza, desenvolvemos um corpo ativado, bastante forte para conter a calma, a serenidade, porque o êxtase de viver nos chega depois do pensamento, depois do sentimento, depois da disciplina autoimposta, depois do sofrimento.

Em última instância, a energia do nosso ser natural é a energia consciente do ferimento.

O ser natural é a porta do que há de mais rude na natureza, mas também podemos dizer que é a própria natureza.

O objetivo não é se tornar um Mapinguari. O objetivo é estar em contato com ele. Permitir que Mapinguari nos tome equivale simplesmente a ficar descabeçado.

Lunardon Vaz
05.11.2020

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