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MATINTAPERERA – A nossa Feiticeira – Lenda do Brasil

Para os índios Tupinambás, Matintaperera é uma ave misteriosa que se transforma em uma velha vestida de preto, com o rosto parcialmente coberto, para anunciar às pessoas coisas do outro mundo e lhes trazer notícias dos parentes mortos.

Sua exigência é apenas fumo para mascar ou mesmo um charuto para fumar. Caso não lhe seja ofertada uma dessas iguarias como forma de reconhecimento, Matintaperera invade a casa e faz ali um redemoinho.

No Tupi, encontramos mata como significado de coisa grande, e mati para coisa pequena. No caso da Matintaperera, o mati significa um ente misterioso, nem ave, nem quadrúpede, nem serpente, mas tendo de todos estes alguma coisa.

Ela mora nas ruínas, junto com as onças, as corujas e as cobras. Às vezes, principalmente nas noites sem luar, sai voandinho por aí e muitos ouvem seus gritos ou assobio e correm a fechar as portas e as janelas. Mas, no dia seguinte, em forma de velha, Matinta percorre as casas fazendo seus anúncios e solicitando o tabaco.

Se caso você quiser conhecê-la, assim que ouvir seu grito ou assobio, basta fazer-lhe o convite em voz alta, para tomar o café da manhã em sua casa, e no dia seguinte Matinta estará lá em seu portão pronta para o cafezinho.

É crença entre paraenses e amazonenses que existem velhas com o poder de se transformarem em Matintas. Assim, ouvindo seu grito, os moradores já prometem, em alto e bom som, o seu fumo, porque eles sabem que Matinta possui poderes sobrenaturais e que seus feitiços podem causar dores ou doenças nas pessoas. O temor por Matinta faz com que todos respeitem as velhas.

Afinal, das três formas da mulher – criança, jovem e velha – essa última é suposto que seja a mais sábia e aquela que aprendeu a manejar melhor tanto a vida quanto a morte, pois é certo que já viveu muitas e muitas mortes em sua vida.

Na região Norte do Brasil, existem algumas sociedades secretas femininas chamadas de Tapereras, que o povo chama de Mati-taperereras. Às vezes, elas usam do medo que provocam para obterem vantagens junto à população.

Bem, então fica evidente que essa lenda brasileira nos traz o arquétipo da feiticeira, da bruxa, que une o visível ao invisível.

Na antropologia, se fala sobre as três faces do feminino: a virgem, a jovem e a velha.

Comumente, a virgem se consagra como sacerdotisa em diversos mitos e fábulas. Mas essa virgindade não se refere ao hímen, refere-se a não permitir se deixar penetrar pela sociedade machista e patriarcal.

A jovem representa o espírito maternal que precede a mulher tanto no exercício familiar como no profissional. Há muitas mulheres que são maternais para com seus alunos, seus clientes, seus pacientes, seus amigos, enfim, não precisa necessariamente ter filhos para se utilizarem da maternagem.

Já a velha representa a feiticeira. Por quê? Porque toda velha é mágica!

Ela já viveu muitas vidas e já morreu outras tantas. Já perdeu tudo e já fez tudo renascer. Já se queimou e, em várias fogueiras, virou fumaça, se condensou e se tornou orvalho. Caindo do céu, fez brotar novas folhas, novas vidas e novos recomeços.

Tal qual Matintaperera, aprendeu a voar e, do alto, contemplar. Se for para virar onça, sabe exatamente onde está a jugular para ali atacar. Aprendeu a estar só, é amiga da coruja, símbolo da sabedoria. Por isso, não mora junto ao povoado, portanto, não fala à toa. Mas, quando fala, há de se respeitar. Se não se der crédito aos seus anúncios e às suas denúncias, a casa pode virar um alvoroço.

Todos dirão que a culpa é dela. Afinal, a feiticeira é o bode expiatório do povoado, mais um motivo para se isolar.

Ela representa as forças reprimidas da psique feminina. Daí ser ela o grande alvo de mil projeções e de ser queimada em praça pública. Mas, para isso, aprendeu a se transmutar em ave para logo partir dali; em serpente para se esgueirar junto ao seio da terra para ali, sozinha, se aquecer.

Mais que tudo, aprendeu a usar do mistério para confundir os códigos e perambular pelas ruas feito mendiga quando, na verdade, ela é soberana!

Então, as velhas são ou não são mágicas?

É a face mais terrível do feminino e também a mais encantadora. Assim sendo, aproveite e a chame para um café, sirva-lhe um bom charuto e absorva o prazer de estar junto a um ser tão especial e tão rico feito Matintaperera.

Gratidão e respeito a todas as velhas com o poder de se transformarem em Matintas!

Lunardon Vaz
26.08.2020

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