Ele é o devorador de humanos tendo por finalidade provocar um novo
nascimento.
Que morra a velha forma humana e que viva a nova!
Essa
frase poderia resumir toda a simbologia dos monstros porque a
revolução deseja chegar à uma radical transformação do humano
para, então, tornar o humano apto a viver num novo mundo.
As
monstruosidades da revolução podem ser ressignificadas ao
compreendermos que os monstros tem por objetivo guardar a sete chaves
um novo paradigma social e coletivo.
Mas,
o que a mitologia e os contos de fadas e mesmo o medo que nos habita,
tem a dizer sobre os monstros?
Usualmente
o monstro é o guardião de algum tesouro e cabe ao sujeito da ação
enfrentar o monstro para alcançar o mérito que ele cobiça. Todas
as vias da riqueza, da saúde, da imortalidade e do sagrado possuem
logo na entrada um monstro que deverá ser vencido tanto externa
quanto internamente provocando uma revolução inclusive em si mesmo.
O
monstro estava presente ao tentar devorar Psique que logo foi salva
por Eros levando ,a então mortal a desenvolver sua própria
divindade tornando-se uma deusa. Estava lá quando a Fera, para
conquistar a Bela, se transformou em um homem gentil. Estava lá a
guardar aos portas do Hades onde somente os heróis e heroínas
conseguiram entrar e dele sair. Estava lá quando incitou Hércules a
enfrentá-lo e atingir o universo dos grandes heróis e quando
incitou Édipo a desvendar seu mistério e assim receber um reino
todo seu. O mesmo se pode dizer da serpente do Paraíso que provocou
Eva a comer a maçã do conhecimento. E a lista cresce e cresce
através dos tempos até chegarmos no nosso aqui e agora onde os
monstros estão a ganhar devido ao nosso cansaço.
Sua
simbologia vem sempre associada ao mundo subterrâneo e o mesmo se dá
para com o indivíduo que comporta em si mesmo seu próprio monstro
com o qual estará constantemente em luta e se acaso queira se
revolucionar.
Ele
é o devorador de humanos tendo por finalidade provocar um novo
nascimento.
Mas,
ocorre que, em algumas vezes pode acontecer de se ser devorado pelo
monstro provocando a entrada definitiva ao inferno, à condenação
de viver nas goelas assustadoras de bestas selvagens e essa
associação simbólica tanto pode ser relacionada ao plano coletivo
quanto ao plano individual.
A
questão principal que se nos propõem esses mitologemas com o mesmo
significado é o porque deles se repetirem por tantos e tandos
seculos sem que ocorra uma verdadeira restauração?
Estamos
vivendo uma sociedade que nos tira o impeto para transcender os
monstros. Muitos estão se entregando a eles por mero cansaço. É
tanta tirania, tantos monstros a nos atacar diariamente, lembrando a
Hidra que ao cortar uma cabeça nasce três em seu lugar que estamos
todos buscando soluções paliativas para simplesmente dormir, se
ausentar dos conflitos, ignorar a existência dos monstros e deixar
tudo se acabar ou delegar a algum monstro mais sedento de poder a
guerra em relação aos demais monstros, como se estivéssemos feito
crianças necessitando da proteção paterna ou materna para se
eximir de qualquer ação efetiva.
Muitas
são as vezes em que a Síndrome de Estocolmo se instala no sujeito e
até mesmo na coletividade, lembrando que seus principais sintomas
são, a principio, o medo, depois a empatia pelo predador ou
predadora que chega até mesmo à admiração.
Esses
são mecanismos de defesa para não viver o conflito, a dor e
dispender um quantum de energia psíquica que não está disponível
seja por um motivo seja por outro.
O
curioso é que desse modo, não se poupa energia psíquica, ela
apenas está mal direcionada no intuito de procrastinar o confronto e
a mais das vezes se volta contra o próprio sujeito causando
diversas e variadas manifestações psicossomáticas e psicológicas.
Antes
de se desejar que um meteoro acabe com a raça humana, talvez
devêssemos fazer desmoronar a criação por nós mesmos produzida
que por ora se tornou a criatura a nos oprimir e a tirar nossas
forças e alegria.
Remédios
psiquiátricos, seitas religiosas, magias de todos os tipos, livros e
cursos de autoajuda, perfazem um entretenimento que coíbe as forças
revolucionárias.
No mundo da distração não há espaço para transformação.
Os
monstros estão a nos devorar. Estão, tal e qual na infância, bem
ali no escuro do quarto de dormir ou embaixo de nossa cama a nos
espreitar. Trazê-los a luz do conhecimento é o primeiro passo a dar
para nos revolucionar.
Lunardon
Vaz