Sibila
foi o nome dado às lendárias profetisas, dentre elas a Sibila de
Cumes, uma das mais reputadas da Antiguidade.
Sibila
de Cumes, profetizou no Oráculo de Delfos, o umbigo do mundo e
quando o Cristianismo ganhou território foi embora para uma gruta no
mais alto cume de montanhas, e de lá, passou a contar histórias
carregadas de informações, transmitindo aos seus ouvintes o que o
futuro poderia reservar, bem como sobre as grandezas e as pequenezas
humanas.
Sua
nova morada foi associada à derrota do paganismo, no entanto,
aqueles e aquelas que buscam sabedoria continuam a subir até o
Paraíso da Sibila para estar com ela e compartir sua sabedoria e
prazer.
Entretanto,
tudo tem seu tempo… se o cavalheiro ou a dama permanecesse além de
um breve período, a morada mágica e a própria Sibila se
transformavam em monstros tornando a fuga dali, impossível. Isso
decorre de que o feminino ctônico, o mais longevo e primário habita
a imaginação dos humanos, devendo ser consultada para logo dali se
retirar, permanecer ali, pode ocasionar seu desaparecimento como ser
individual.
A
nova fé que se estabeleceu, tornou Sibila em uma exilada e mesmo
abandonada, sua voz foi abafada e pensada como emudecida, contudo,
ocultada sob um monumento de pedra Sibila continua a falar. Não
perdeu sua soberania e nem sabedoria. O valor negativo que lhe foi
atribuído nunca chegou a convencer totalmente.
A
narradora de histórias da imaginação herda o papel das Parcas,
fiando possíveis versões do futuro, mas diferentemente das
narrativas construídas para o poder, essa narradora não se impõe e
somente fala quando consultada. Precedida pelo silêncio, preludio de
abertura à revelação, a eloquência torna-se uma recompensa por
uma bondade especial.
O
silêncio é uma grande cerimônia. Segundo as tradições, ouve um
silêncio antes da criação e haverá um silêncio no fim dos
tempos, o silêncio do Universo!
Quiseram
fazer da Sibila, um demônio tagarela, desqualificando sua beleza e
sabedoria, mas enquanto as mulheres se ocupavam de suas monótonas
tarefas domesticas que não tem fim, por retaliação, a Sibila fala
através das fofocas, na forma de sonhos, histórias e contos de
fadas.
Ninguem
poderia dizer que as histórias eram inúteis, pois enquanto as
línguas estalavam, os dedos costuravam, o alho e o milho eram
descascados, as louças ariadas e o chão lavado.
E a
noite, nas mentes das crianças a velha Sibila a faziam dormir,
sonhar e acordar para um novo brincar.
Por
cima da cabeça das mulheres e dos homens briguentos ou emudecidos há
um pássaro chamado Tagarela que ao anoitecer amplifica sua fala
constante. Ao invés de trancafiar esse pássaro, deixe-o livre e o
convide para sua mão esquerda e com sua mão direita, o alimente com
bondade e sincero acolhimento, tão logo assim se faça, o pássaro
se mostrará em sua melhor forma: uma linda mulher companheira e
sábia para todas as horas.
A
Sibila foi considerada como a emanação da sabedoria, tão velha
quanto o mundo e depositária da revelação primitiva e espiritual.
É o
grande Oráculo permanente que nos chega através dos sonhos, das
fantasias, dos delírios, das mitologias e dos contos de fadas.
A
montanha é encontrada na Terra e bem próxima aos Céus. Subir à
montanha de Sibila significa ouvir as vozes do silêncio cósmico e
de toda sua sabedoria. Descer da montanha após tal episódio
significa conhecer novamente a terra em que se está pisando,
renovando ou ressignificando sua conduta e seu corpo que está nesse
solo produzindo um rastro por onde quer que caminhe.